O realizador franco-suíço alcançou a fama em 1960 com
«O Acossado», seguido de clássicos como
«Alphaville» e
«O Desprezo». Mas depois de quase uma década de glória, Godard rompeu claramente com a indústria cinematográfica em maio de 1968.

Durante os últimos 30 anos
Godard viveu recolhido na cidade suíça de Rolle, de onde esporadicamente lança filmes de autor para delícia dos seus fãs.

Este ano apresentou em Cannes
«Film Socialisme» mas negou-se a ir ao festival, Este ano apresentou em Cannes «Film Socialisme» mas negou-se a ir ao festival, da mesma maneira que em 1968 as suas decisões políticas o levaram a realizar a sua pequena revolução nas escadarias nas escadarias que hoje vêem subir as maiores estrelas do mundo, para chamar a atenção sobre uma manifestação estudantil que acontecia paralelamente.

«Em meados dos anos 60, Godard era Picasso: eles eram os dois artistas mais famosos do mundo», resumiu
Jean-Michel Frodon, ex-director da revista
Cahiers du Cinéma, que sempre incentivou e deu destaque ao movimento da
Nouvelle Vague.

«Ele foi a estrela de sua geração. E, até hoje, não é possível falar-se vinte minutos com
David Lynch sem mencionar Godard. Ou com
David Cronenberg,
Gus Van Sant,
Jim Jarmusch».

Godard primeiro foi crítico da lendária Cahiers du Cinéma, em conjunto com outras grandes figuras da Nouvelle Vague, incluindo
François Truffaut e
Claude Chabrol, este último recentemente falecido.

«Naqueles anos reinava um extraordinário amor pelos filmes e um espírito de rebelião contra a impressão de conformismo no cinema francês», explicou Jean-Michel Frodon.

O que trouxe afinal Godard ao cinema? «Uma nova forma de contar uma história, a duração das suas cenas, o uso rítmico da edição», explicou Frodon.

«Mas mais do que qualquer coisa, em cada um dos planos de Godard há uma beleza extraordinária. Ele é, sem dúvida, o cineasta que melhor filmou o céu, as árvores, a natureza - e mulheres também, embora nesta área ele tivesse mais concorrência», prosseguiu.

Godard reinventou uma linguagem do cinema que continua a inspirar cineastas como David Lynch, Pedro Almodóvar, Quentin Tarantino, Gus van Sant e Mathieu Amalric.

O realizador, que adquiriu a nacionalidade suíça aos 21 anos, afirma que decidiu instalar-se na cidade de Rolle há 30 anos com sua companheira Anne-Marie Miéville porque é, diz ele, «um lugar qualquer».

«As pessoas deixam-no tranquilo. Ele tem os seus hábitos, passeia com o seu cão, vai ao café na rua principal, compra o seu jornal, os seus cigarros. É alguém muito simples», concluiu Frodon.

«Tenho a sensação de que ele não quer que celebremos este momento. Ele olha para o futuro e seu último filme é incrivelmente moderno. Quando olhamos para o seu trabalho, parece que ele tem 20 anos», resumiu
Frederic Maire, da Cinemateca Suíça.

SAPO/AFP