Com "Ocean's 8", Hollywood apresenta uma aventura feminina na era do movimento #MeToo, que rompe vários códigos de um género historicamente masculino.

O filme estreia esta semana em Portugal, mais de 10 anos depois de "Ocean's Thirteen" (2007) , o terceiro capítulo das aventuras de Danny Ocean (George Clooney) e o seu grupo, que roubam casinos sem perder a elegância.

Para revitalizar a saga, a Warner Bros obrigou Danny, falecido em circunstâncias desconhecidas, a dar lugar à sua irmã mais nova, Debbie (Sandra Bullock), que, assim como o irmão no início da história, acaba de sair da prisão.

O local também é diferente: saem os casinos de Las Vegas e entra Nova Iorque, mesmo no meio da famosa gala do Met, o Museu Metropolitano de Nova Iorque.

O evento, organizado na vida real a cada mês de maio por Anna Wintour, editora da revista Vogue, é o momento escolhido por Debbie Ocean para roubar um colar Cartier de 150 milhões de dólares.

Para concretizar a façanha, ela reúne uma equipa de especialistas, todas mulheres. Algo raro, mas já visto no pouco conhecido "Assalto em L.A." (1996), "Set It Off" no original, com  Jada Pinkett Smith, Queen Latifah e Vivica A. Fox.

Mas "Ocean's 8" vai mais além e evita completamente a testosterona. A longa-metragem abre mão de elementos inerentes ao género: não tem armas, explosivos, violência física ou a encarnação de um rival, uma espécie de inimigo representado por Terry Benedict (Andy Garcia) em "Ocean´s Eleven". Ficaram apenas o planeamento e a execução minuciosa do plano.

"Muitas coisas mudaram"

Enquanto as tentativas anteriores apresentavam mulheres inexperientes, em alguns casos quase caricaturas, "Ocean's 8" mostra Debbie e as suas cúmplices como uma equipa que não perde em nada para o grupo de Danny Ocean.

"Já existiram versões masculinas, mas nunca houve este tipo de elenco de mulheres, que arrasam", explicou o realizador Gary Ross ("Hunger Games").

Ross, que também é um dos argumentistas, explicou que foram necessários três ou quatro anos para que o projeto de um filme de alto orçamento completamente apoiado em atrizes fosse aprovado, inclusive com três atrizes vencedoras do Óscar e a cantora Rihanna no elenco.

"É interessante ver que há dois ou três anos isto parecia impossível. Agora parece algo como: Bem, mas é claro", disse Cate Blanchett, que interpreta Lou, a pessoa de confiança de Debbie.

"Muitas coisas mudaram, acredito", completou.

O filme foi rodado antes do escândalo Harvey Weinstein, mas a questão obrigou Hollywood a colocarem causa as suas práticas e o local ocupado pelas mulheres no cinema.

"O que importa, em particular para as jovens mulheres, é ver personagens femininos que não são arquétipos, básicos, e sim bem diferentes, complexos, com nuances", disse Olivia Milch, uma das argumentistas do filme.

Na era #MeToo nada pode ser considerado neutro, inclusive um filme que não tem mensagem política e que pretende sobretudo divertir.

"Não se pode substimar o poder da representação visual", disse Anne Hathaway, que interpreta a estrela Daphne Kluger, que usa o famoso colar durante o baile do Met.

"E para uma menina de oito anos, nós não estamos a dizer para seguir uma carreira no crime, estamos a dizer para fazer aquilo com que sonha. E existe espaço para ela", concluiu.

VEJA O TRAILER DO FILME.