"Unicórnio", que iniciou no Festival de Berlim do ano passado uma longa trajetória de festivais, narra a solitária vida de uma pré-adolescente (Bárbara Luz) que vive com a mãe (Patrícia Pillar) numa casa no meio das montanhas. Ao mesmo tempo, a miúda tem conversas com o pai que vive em lugar indeterminado, enquanto a chegada de um estranho muda a relação entre mãe e filha.

Tal como o animal da fantasia que o título evoca, o filme é um verdadeiro OVNI na carreira da intérprete, um projeto autoral que rompe com os longos anos de sucesso no universo televisivo e com alguns trabalhos no cinema menos radicais de Patrícia Pillar. A atriz gostou tanto da ideia que entrou como coprodutora do projeto. O que a fez, por estas alturas, optar por um registo deste tipo?

“Sinto-me uma pessoa aberta e gosto de novas experiências. Tinha apreciado muito o primeiro filme do Eduardo Nunes, ‘Sudoeste’. Fiquei impressionada com aquela qualidade e com vontade de fazer algo assim. Quando soube que este era inspirado em dois contos de Hilda Hirst, fiquei ainda mais animada”, explica.

A exigência desta história passada num tempo e local indeterminados levou a atriz a unir-se à “trupe” da produção para um local isolado no interior do estado do Rio de Janeiro.

“Claro que foi difícil, sou urbana, estamos embebidos por esse ritmo alucinante e foi um choque bastante grande. Mas o natural, na verdade, é o ritmo lento e não o moderno”, salienta.

Unicórnio

Essa vida solitária dos personagens, onde os grandes acontecimentos são interiores, sugerem à atriz uma leitura sobre o pouco tempo que as pessoas têm hoje para a reflexão: "É na solidão que as grandes coisas acontecem. É isso que o mundo moderno quer evitar, o medo de nós convivermos com esses fantasmas ou coisas do nosso pensamento, do nosso interior. Este filme vem de forma radical colocar essa outra possibilidade."

Reflexão é o momento-chave na vida de Patrícia Pillar, que vem a Lisboa desfrutar de uma acalmia na carreira depois do ritmo extenuante das filmagens da série “Onde Nascem os Fortes”, que foi exibida com sucesso no Brasil em 2018: "agora, estou a parar para pensar um pouco – lá está, é um tempo de reflexão”.

Existe sempre aquela questão “cliché” da relação de um visitante com Portugal. Para Patrícia Pillar, neta de português, é uma relação natural.

"Aqui sinto-me em casa”, avalia.

As passagens por cá foram muitas – as úlitmas depois do Mundial de futebol, onde aproveitou para ir a um concerto de Salvador Sobral. Mas no Rio de Janeiro já viu vários de António Zambujo.

"Ele é fantástico!", elogia.

Por fim, lamenta não haver no momento espetáculos do Fado Bicha, que gostaria muito de conhecer...