As grandes personagens femininas da Disney falam cada vez menos nos filmes, mesmo naqueles em que são as protagonistas.

A conclusão preliminar, divulgada pelo Washington Post, é de duas linguistas, Carmen Fought e Karen Eisenhauer, que estão a fazer uma investigação que pretende analisar todas as frases das princesas Disney para perceber o que os filmes estão a ensinar sobre os papéis de cada sexo, uma vez que tantas jovens crescem a vê-los repetidamente.

"Não acreditamos que as jovens brinquem naturalmente ou falem de uma certa forma", defendeu Fought. "Elas não nascem a gostar de um vestido cor de rosa. A certa nos ensinamo-las. Portanto, a grande questão é onde elas apanham as suas ideias sobre serem raparigas."

Em "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937), os diálogos entre os dois sexos equilibram-se, enquanto em "A Gata Borralheira" (1950) as personagens femininas tinham 60%, que subiu para 71% em "A Bela Adormecida" (1959).

Em 1989, após um intervalo de 30 anos, Ariel de "A Pequena Sereia", era celebrada como uma princesa Disney para os tempos modernos, menos passiva e que pensava pela sua cabeça.

Mas apesar disso, foi o primeiro filme das princesas Disney em que as personagens masculinas tinham significativamente mais para dizer: 68%.

Em "A Bela e o Monstro" (1991), a percentagem subiu para 71 e logo a seguir para 90 em "Aladdin” (1993), antes de descer para 76 em “Pocahontas”,

As personagens femininas só tiveram 23% dos diálogos em "Mulan" (1998) e 24% em "A Princesa e o Sapo" (2009), mas o panorama melhorou com os 52% de "Entrelaçados" (2010) e 74% de " Brave - Indomável" (2012), antes de o sexo masculino ficar com 59% das frases de "Frozen: O Reino do Gelo" (2013), apesar da história ser sobre duas irmãs.

Em média, as personagens animadas "masculinas" agora têm três vezes mais diálogos do que as femininas.

Na raiz da diferença pode estar o facto dos filmes terem poucas personagens femininas para além da protagonista.

"Existe uma princesa isolada a tentar conseguir que alguém case com ela, mas não mulheres a fazer quaisquer outras coisas", esclarece Carmen Fought.

"Não há mulheres a liderar as pessoas da cidade contra o Monstro, não há mulheres a conviver juntas na taberna a cantar, a ensinar o caminho a outras ou a inventar coisas. Basicamente todos os que estão a fazer qualquer coisa, além de encontrar um marido no filme, são homens."

Para isso acontecer, Karen Eisenhauer avança com uma hipótese.

"O meu melhor palpite é que se trata de descuido porque estamos tão treinados a pensar que o sexo masculino é a norma. Portanto, quando se quer acrescentar um lojista, esse lojista é um homem. Ou adicionar um guarda, esse guarda é um homem. Acho que é apenas algo que está entranhado na nossa cultura."

Apesar disso, as investigadoras chamam a atenção para não se julgar os filmes apenas pelo número de palavras, mas pelo que é dito.

Para já, a análise ainda só se debruçou nos elogios e na forma como as princesas eram faladas.

Aqui, nota-se mais os esforços da Disney para acompanhar os tempos: na época clássica, Branca de Neve, Cinderela e  Bela Adormecida eram elogiadas principalmente pela sua aparência, mas agora são as competências ou sucessos que dão que falar.

As conclusões em gráfico: as percentagens de frases por sexo.


As conclusões em gráfico: o número de papéis com frases por sexo.