Em declarações recolhidas por Mauro Donzelli para o sítio ‘online´ do festival, Pedro Costa admitiu que o galardão "é muito importante para as pessoas que fizeram o filme", estreado na quarta-feira neste certame internacional de cinema.

Depois de ter sido distinguido em Locarno, em 2014, com o prémio de melhor realização por "Cavalo Dinheiro", Pedro Costa regressou este ano ao festival com um filme sobre uma mulher cabo-verdiana que chega a Portugal três dias após a morte do marido, depois de ter estado 25 anos à espera de um bilhete de avião.

"Conseguir este prémio num festival como Locarno significa que tudo é possível, até para um filme feito sem dinheiro", comentou o realizador, acrescentando que trabalhou arduamente durante dias, meses e anos, "pacientemente e cuidadosamente, de forma a que estes lugares e esta comunidade [em Lisboa] seja protegida pelo cinema".

Para Pedro Costa, os seus filmes sobre esta comunidade cabo-verdiana não são documentários: "Estamos a fazer algo um pouco mais épico", com base numa relação que existe há 25 anos.

O realizador relatou que tudo começou quando foi a Cabo Verde e fez um filme, regressando a Lisboa com presentes e cartas para os familiares, imigrantes em Portugal.

Foi assim que descobriu o bairro, que começou a frequentar, a descobrir novas histórias, e, devagar, a conhecer as pessoas e a filmar. Aconteceu em 1987, e desde então nunca mais saiu do bairro.

"Eu não li aquelas cartas, mas vi o rosto daquelas pessoas quando as liam, e que lhes provocavam expressões de alegria ou tristeza. Este filme é uma nova carta para esta comunidade e para nós", disse o realizador.

Sobre esta relação - que já deu origem a vários filmes - diz que o mais importante é "nunca diminuir as pessoas, porque esse é que é o perigo".

Questionado sobre se neste filme existe alguma esperança, Pedro Costa admitiu que sim, por causa de Vitalina Varela: "Ela é uma força da natureza, do passado, do presente e também do nosso futuro".

"Falo de pessoas que vivem hoje no esquecimento, dormem nas ruas, são torturados. O cinema pode protegê-los, de certa forma vingar uma parte desta situação, porque pode ser exibido em qualquer lado", disse.

A esperança tem a ver com Vitalina, que faz dela própria no filme: "Ela faz-nos um pouco mais fortes porque tem convicções e tem fé, e acreditou em nós. Na nossa história ela é a rainha, e contagiosa, capaz de dar a todos nós um pouco de esperança".

De acordo com o palmarés do sítio ‘online´ do festival, a atriz protagonista do filme, Vitalina Varela, foi também distinguida com o Leopardo de Melhor Interpretação Feminina.

Pedro Costa conheceu Vitalina Varela quando rodava "Cavalo Dinheiro", acabando por incluir parte da sua história na narrativa, mas o novo filme é totalmente dedicado a esta cabo-verdiana de 55 anos.

A atriz cabo-verdiana também foi distinguida na sexta-feira com o Prémio Boccalino d'Oro para melhor atriz, disse hoje à agência Lusa a produtora Optec Filmes.

O Boccalino d'Oro é um prémio paralelo ao Festival Internacional de Cinema de Locarno, entregue por um júri independente, tendo sido criado por um grupo de programadores e cineastas no ano 2000.

Nascido em Lisboa, em 1959, Pedro Costa é um cineasta independente, herdeiro das experiências feitas em 16mm no documentário pelos seus pares do chamado Novo Cinema, tendo-se formado na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa.

Iniciou a atividade nos anos 1990, tendo sido assistente de realização de Jorge Silva Melo e de João Botelho, criando, até hoje, 15 longas e curtas-metragens como "Ne Change Rien" (2009), "Juventude em Marcha" (2006), "Ossos" (1997), "Casa de Lava" (1994) e "O Sangue" (1989).

O filme "No Quarto da Vanda" deu-lhe o Prémio France Culture para o Cineasta Estrangeiro do Ano, no Festival de Cannes de 2002.

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