A ministra Eveline Eveline Widmer-Schlumpf explicou hoje, numa conferência de imprensa em Berna, que as investigações não permitem excluir «vícios» no pedido de extradição americano.

O advogado de
Roman Polanski e os embaixadores americano, francês e polaco na Suíça foram informados da decisão.

Os Estados Unidos pediram a extradição de Polanski, de 76 anos, para que este pudesse cumprir uma pena por um crime de abuso de menor pelo qual foi condenado há 30 anos.

O realizador foi detido em Setembro de 2009 ao chegar ao aeroporto de Zurique, onde ia receber um prémio no Festival de Cinema da mesma cidade, e encontrava-se em prisão domiciliar no seu chalé em Gstaad, nos Alpes suíços, à espera da decisão judicial.

A acção a que se reporta o motivo da detenção de Roman Polanski reporta-se a 1977, quando o realizador foi detido em Los Angeles devido a uma acção judicial apresentada pelos pais de uma adolescente de 13 anos, Samantha Gailey.

Polanski terá seduzido a jovem na casa de
Jack Nicholson, na sequência de uma sessão fotográfica com a menor para a edição francesa da Vogue, durante a qual terá mantido relações sexuais com ela. Na época, declarou-se culpado de «relações sexuais ilegais», foi condenado a uma avaliação psiquiátrica de 90 dias numa prisão para ditar a sua eventual condenação, mas fugiu entretanto para a França, país onde mantém cidadania e que se recusou sempre a extraditar o realizador para os EUA.

Desde então, Polanski prosseguiu carreira na Europa e tem viajado essencialmente para países onde o risco de extradição para os EUA é improvável, como a Alemanha, a República Checa e a Polónia.

Entretanto, em 2003, a vítima Samantha Gailey, entretanto com o apelido alterado para Geimer, deu uma entrevista em que recordava o sucedido mas em que pedia aos tribunais norte-americanos para deixarem cair o caso: «Não há dúvida que o que ele me fez foi errado. Mas desejo que ele pudesse voltar à América para que todo este doloroso processo possa acabar para todos nós», acrescentando que «estou certa de que se ele pudesse regressar, não voltaria a fazer o que fez. Ele cometeu um erro terrível mas já pagou por ele».

Apesar da ascendência polaca, Roman Polanski nasceu na França em 1933 mas foi viver com os pais para a Polónia três anos depois. Após a invasão do país pelos nazis, a família foi atirada para o gueto de Cracóvia, de onde o futuro realizador fugiu em 1943, um ano após a morte da mãe no campo de concentração de Auschwitz.

Após a guerra, Polanski prosseguiu a sua vida na Polónia, onde se tornou um dos principais nomes do cinema do país após o sucesso da sua primeira longa-metragem,
«A Faca na Água» (1962). Pouco depois, deixou o espartilho do regime comunista e partiu para a França e depois para Inglaterra, onde teve logo um enorme sucesso com
«Repulsa» (1965), protagonizado por Catherine Deneuve, e
«Por Favor, Não Me Mordam o Pescoço» (1967), com a sua futura esposa
Sharon Tate.

Rumou depois para Hollywood, onde teve também um enorme êxito logo ao primeiro filme,
«A Semente do Diabo» (1968), que prosseguiria com
«Chinatown» (1973). Em 1969, a tragédia bateu-lhe à porta quando sua esposa Sharon Tate foi barbaramente assassinada por Charles Manson, num crime que deixou a América em estado de choque.

Após o escândalo sexual de 1977, Polanski continuou uma sólida carreira na Europa, com filmes como
«Tess» (1979),
«Frenético» (1988) e
«Lua de Mel, Lua de Fel» (1992), que atingiu o ponto alto em 2002 com o filme
«O Pianista», que venceu a Palma de Ouro em Cannes e lhe valeu o Óscar de Melhor Realizador, que não pode ir aos EUA recolher.

O seu mais recente filme,
«O Escritor Fantasma», estreia esta quinta-feira nas salas de cinema portuguesas.

SAPO com AFP