O novo filme do artista e ativista chinês Ai Weiwei, “The Rest”, segue-se a “Human Flow” e procura mostrar “as consequências da crise e luta constante” dos refugiados, para quem o esforço “ainda está a começar”.

“The Rest” será exibido em estreia nacional no dia 5 de dezembro, na Universidade Católica do Porto, com o comentário do Alto Comissário para as Migrações, Pedro Calado.

A sessão, pelas 21:00, é promovida em parceria pela associação Meeru – Abrir Caminho com a pós-graduação em Direitos Humanos da Católica, o Cineclube EA e a plataforma Humans Before Borders (HuBB), tendo entrada gratuita.

O artista e ativista recorda o trabalho de “Human Flow”, exibido no Festival de Veneza em 2017, como uma “visão global da crise de refugiados no mundo”, enquanto “The Rest” “mostra as consequências da crise e a luta constante” dos migrantes, explica em entrevista à Agência Lusa.

“Mostra o tipo de jornada por que cada um tem de passar e como são tratados após chegarem à Europa. Escapar para um lugar seguro, uma terra de democracia e liberdade, não corre como eles esperavam”, acrescenta.

Assim, “The Rest” mostra precisamente o desencanto de perceber “que as suas jornadas difíceis acabaram de começar”, ainda que Weiwei admita que de “Human Flow”, um filme com pendor humanitário, possa ter tido “um impacto zero” na sociedade.

“Como artista, faço filmes para estender a minha própria preocupação e aprender com a crise. Quero conhecer estas pessoas, estas pessoas que são chamadas de refugiados. Para mim, são seres humanos, indivíduos, mães, irmãs, em nada diferentes da minha família”, comenta.

Assim, e com uma dor e sofrimento que espelha a de muitos pelo mundo, essas semelhanças não chegam para que o artista possa compreender “o impacto que um filme como ‘The Rest’ tem na sociedade global”.

“Age, antes, como uma prova do nosso tempo. No futuro, quando alguém vir este filme, vão entender o que fizemos [enquanto sociedade] e o quão vergonhoso foi este tempo”, atira.

Instado a comentar a crise de refugiados, Ai Weiwei prefere notar que “a situação dos migrantes na história da luta humana nunca melhorou”, porque a mudança de locais e culturas estiveram sempre interligadas com a História.

“Hoje, a situação não é melhor do que no passado. Esquecemo-nos do que os nossos antepassados enfrentaram ao fugir do perigo e as tentativas que fizeram para ser aceites noutra sociedade”, refere.

Segundo o artista contemporâneo, que saiu da China em 2015 para viver em Berlim, mudando-se este ano para o Reino Unido, o estado da Humanidade “é muito pobre”.

“[A Humanidade] não consegue encontrar-se com os desafios apresentados pela globalização, mesmo com os desenvolvimentos científicos e tecnológicos de que a Europa beneficia”, sentencia.

Na opinião do chinês, que tem trabalhado entre o documentário, as artes visuais e a arquitetura, a Europa precisa “de pensar realmente sobre quais os seus valores”.

“Quais podem ser chamados valores europeus? Estes não são valores cristãos, mas antes valores que formam a fundação de uma sociedade civilizada e contemporânea. É uma pena, realmente, que não consigam ajudar aqueles que estão desesperadamente a precisar”, afirma.

Este ano, Ai Weiwei mudou-se para o Reino Unido, após morar quatro anos em Berlim, citando a falta de uma cultura aberta na Alemanha como uma das razões, mas o Brexit e a “incerteza e problemas que o Reino Unido atravessa não são diferentes” da União Europeia, da China ou dos Estados Unidos.

“Não posso escapar destas questões e estou interessado em ser parte da luta”, conta.

Nascido em agosto de 1957, em Pequim, Ai Weiwei tem trabalhado há décadas sobretudo na área do documentário e artes visuais, mantendo uma postura crítica sobre a China em questões de direitos humanos, sendo autorizado a sair em 2015, já depois de vários trabalhos de investigação de corrupção no governo chinês, mas também depois de ter sido consultor do ateliê de arquitetura Herzog & de Meuron para o Estádio Nacional, para os Jogos de Pequim 2008.

Foi detido em 2011, no aeroporto da capital chinesa, tendo continuado preso durante 81 dias sem ser acusado, apenas com alegações de crimes económicos, quatro anos antes de sair para a Europa.

Em 2010, inaugurou na Tate Modern, em Londres, a exposição “Sunflower Seeds”, uma abordagem às técnicas de produção maciça utilizadas na China para aumentar o produto destinado a exportação, antes de “Human Flow”, filmado em mais de 20 países e exibido em Veneza em 2017.