Muitos cinéfilos foram apanhados de surpresa com as notícias de julho de 2021 sobre quem ia realizar e escrever o filme "Barbie": como realizadora, Greta Gerwig, que também é atriz, estava ligada ao cinema mais intimista e fora nomeada para os Óscares com "Lady Bird" (2017) e "Mulherzinhas" (2019); pelo mesmo cinema anda o companheiro, o argumentista e realizador Noah Baumbach, conhecido por títulos como "A Lula e a Baleia" (205), "Greenberg" (2010), "Frances Ha" ou "Marriage Story" (2019).
Com uma relação pessoal e criativa há mais de uma década, só na sexta-feira (27 de outubro), a dupla teve oportunidade de falar em conjunto sobre o seu trabalho, uma vez que Noah Baumbach não podia dar entrevistas de promoção à volta do lançamento a 12 de julho por causa da greve dos argumentistas de Hollywood, que começara no início de maio.
Numa conversa moderada por Judd Apatow e onde esteve presente a revista Variety, o cineasta disse que o sucesso do filme era muito gratificante, mas admitiu que a ideia de levar ao cinema uma história à volta da boneca icónica da Mattel estava longe de o entusiasmar: "Achei uma péssima ideia e a Greta levou-me atrás".
Foi Margot Robbie, no papel de produtora, que "vendeu" ao estúdio Warner Bros. a ideia que contratar Greta Gerwig para escrever o filme... que aceitou, desde que fosse com o companheiro.
Noah Baumbach recorda a reação inicial: "Fiquei do género 'Não vejo como é que isto vai ser bom de todo'. Acabei por não pensar nisso durante algum tempo e sempre que ela puxava o assunto, eu dizia 'Tens de arranjar maneira de nos livrar disto'. E depois aconteceu a pandemia...".
Greta Gerwig recordou as razões do companheiro para não avançar: "Não existem personagens e não existe história, portanto queres fazer isto porquê? Não há um ponto de entrada".
Foi durante o confinamento que a atitude mudou, com Gerwig a apresentar-lhe duas páginas com a sua ideia, à volta de Barbie a acordar na sua casa de sonho, sair para o jardim e encontrar alguém doente e a morrer.
"Li estas páginas e pensei 'Agora percebo o que é isto'. O filme é sobre abraçar a sua mortalidade e sobre a caos de tudo isto", recordou.
Greta Gerwig também explicou o que a levou a dizer sim a Margot Robbie: "Não é que tivesse uma ideia. Parecia bastante estranho. Toda a gente sabe o que é a Barbie. Existe desde 1959. Toda a gente tem uma opinião sobre isso; vai desde ‘Odeio-a. Adoro-a. É uma inspiração. É péssima'. Senti que havia aqui uma ideia".
"De certa forma, era como dizer: ‘Se vocês nos deixarem em paz, iremos descobrir’. Descobri que sempre que partilho ideias muito cedo, elas ficam más e o filme não vai ser bom. Não gosto de falar sobre as coisas muito cedo, nem de apresentar os tratamentos [da história] muito cedo, porque parece que isso vai, de alguma forma destruir, o que o filme é”, disse sobre o seu processo.
Com a dupla finalmente alinhada, Noah Baumbach descreveu um processo criativo em que cada um trabalhou em separado e a seguir trocavam o que tinham feito, tentando divertir um ao outro com as suas ideias, até chegar um momento em que ficou a achar que era a melhor coisa que já tinham escrito em conjunto.
Com receitas de bilheteira globais de 1,44 mil milhões de dólares, "Barbie" é o maior sucesso comercial de 2023, o mais rentável do estúdio e de uma realizadora, além do 14.º da história do cinema (sem atualizar as receitas de outros filmes com a inflação). Espera-se que seja um forte candidato a muitos nomeações na próxima cerimónia dos Óscares.
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