É um novo capítulo da carreira de Steven Soderbergh, com ele disponível para mostrar que os telemóveis podem ter espaço na Sétima Arte: o seu novo trabalho, "Unsane", visto no Festival de Cinema de Berlim, foi filmado com um iPhone.
"É uma época fascinante para fazer filmes. Gostaria de ter um objeto destes quando tinha 15 anos", afirmou o realizador de filmes como de "Traffic" e "Sexo, Mentiras e Vídeo", este último que lhe valeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes aos 26 anos.
Ao longo da sua carreira, o cineasta americano, agora com 55 anos, tentou seguir o próprio caminho, alternando filmes de sucesso comercial com obras mais experimentais. E não é o primeiro a filmar um longa-metragem com um telemóvel: Sean Baker ("The Florida Project") gravou "Tangerine" (2015), que mostra um dia na vida de dois transexuais, com um smartphone, alegando motivos orçamentais.
No ano passado, o francês Michel Gondry rodou uma curta de 11 minutos, "Detour", a pedido da Apple.
Mas Soderbergh é o primeiro que se mostra convencido e disposto a repetir a experiência: na próxima semana começará um novo filme com as mesmas condições.
Entre as vantagens, o cineasta citou uma rodagem mais curta (duas semanas), uma equipa reduzida e menos tempo entre os ensaios e a produção. Mas também destacou vários pontos negativos, como a sensibilidade do aparelho às vibrações e a profundidade de campo, que deve ser trabalhada depois.
"Unsane", exibido foram de competição no Festival de Berlim, conta a história de Sawyer Valentini, interpretada por Claire Foy, a rainha Isabel II da série "The Crown".
Na Pensilvânia, a jovem, que vive sozinha, é levada para uma clínica psiquiátrica. No local, ela encontra um homem que a acusa de persegui-lo há vários anos. Tudo não passa da sua imaginação (como sugere o título do filme) ou há alguma verdade nisto?
É um "thriller" angustiante do início ao fim, com uma luz interna que acentua o aspecto sórdido da instituição psiquiátrica, mas é difícil perceber à primeira vista que o filme foi rodado com um iPhone.
O retrato de uma mulher supostamente assediada também reflete o debate atual sobre os consentimentos nas relações sexuais, após o escândalo Harvey Weinstein em Hollywood.
O filme também faz uma crítica à psiquiatria e ao negócio dos seguros médicos nos EUA, um tema já abordado por Soderbergh em "Efeitos Secundários", de 2013, quando o realizador chegou a anunciar a sua reforma do cinema.
Desde então mudou de ideias e dedicou-se principalmente às séries "The Knick", com Clive Owen, e mais recentemente "Mosaic", com Sharon Stone.
"Voltei a apreciar a realização cinematográfica graças a "The Knick". Tinha confundido a minha frustração com a indústria do cinema com o meu trabalho de cineasta", disse agora em Berlim.
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