O cineasta americano Woody Allen, cujos filmes sempre são apresentados no Festival de Cannes fora da competição pela Palma de Ouro, afirmou esta quarta-feira que não acredita "na competição para questões artísticas".

"Por um acaso, posso dizer que um Matisse é melhor do que um Picasso?", declarou numa conferência de imprensa o realizador que, aos 80 anos, afirmou estar "cheio de juventude".

"Sou ágil e estou em excelente condição física, bem da cabeça, como bem, faço exercícios e tenho a sorte de que os meus pais viveram mais de cem anos", afirmou.

O realizador distinguido com Óscares por "Annie Hall" promete continuar a fazer filmes "enquanto ainda existirem pessoas estúpidas o suficiente para me dar apoio financeiro".

O seu mais recente filme, "Café Society", abre o festival: é uma comédia leve e nostálgica ambientada em Hollywood e Nova Iorque na década de 1930 que terá distribuição da Amazon em julho.

No mundo dos atores, celebridades, magnatas e mafiosos que gravitam na indústria cinematográfica da época evoluem os personagens neste filme protagonizado por Kristen Stewart, Jesse Eisenberg e Blake Lively.

"Era uma indústria cruel e provavelmente continuará assim", disse Allen, referindo-se à época dos grandes estúdios de cinema.

No filme, a personagem interpretada por Kristen Stewart casa-se com um poderoso da indústria muito mais velho do que ela.

Em resposta a uma pergunta, Allen disse que não teria nenhum problema em escrever um argumento invertendo os géneros da relação.

"Não hesitaria em fazê-lo se tivesse uma boa ideia para uma história de uma mulher de 50 anos e um homem de 30. É uma ideia perfeitamente válida".

Esta foi uma oportunidade para Allen transformar a atriz numa de suas heroínas, ela que é uma das musas de Cannes em 2016, pois também está presente num dos filmes que disputa a Palma de Ouro, "Personal Shopper", do francês Olivier Assayas.

A tragicomédia também marca o reencontro do realizador com Jesse Eisenberg, com quem já trabalhara em "Para Roma com Amor", de 2012, e que aqui é um alter ego, Bobby Dorfman, um jovem ingénuo que se cansa de Nova Iorque, onde trabalha na joalharia dos pais.

Sonhando com o glamour e a boa vida, decide viajar até Hollywood, onde o seu tio Phil (Steve Carell), poderoso agente de estrelas, o contrata como mensageiro. Na cidade nova, ele apaixona-se pela personagem de Stewart, a ambiciosa ajudante do tio.

Rejeitado, regressa a Nova Iorque, onde observa a efervescência dos locais da moda frequentados pela chamada "Café Society", um movimento de artistas, famosos e grandes mecenas, mas sem conseguir esquecer a amada.

O realizador disse que com "Café Society" se propôs fazer um filme romântico, que segundo ele também o define como pessoa.

"Sempre me vi como um romântico, mas isso nem sempre é uma opinião partilhada pelas mulheres da minha vida", brincou.

Em resposta a uma pergunta sobre a fama, Allen disse que é agora "a moeda mais valiosa, para bem ou para o mau".

Trailer original "Café Society".