A HISTÓRIA: Ariel é uma bela e corajosa jovem sereia com sede de aventura. Ela é a mais nova das filhas do Rei Tritão e a mais desafiadora, anseia por descobrir mais sobre o mundo além-mar e, enquanto visita a superfície, apaixona-se pelo belo Príncipe Eric. Como as sereias estão proibidas de interagir com humanos, Ariel deve seguir o seu coração. Ela faz um acordo com a malvada bruxa do mar, Úrsula, que lhe dá a hipótese de experimentar a vida em terra, mas acaba por colocar a sua vida – e a coroa do seu pai – em perigo.

"A Pequena Sereia": nos cinemas a partir de 25 de maio nas versões original e dobrada.


Crítica: Francisco Quintas

A nostalgia é um ótimo negócio. Tal tem sido corroborado por marés "hollywoodianas" nos últimos anos, através de relançamentos de alguma marca popular, sejam eles uma sequela, prequela, um “reboot” ou “remake” de clássicas animações em imagem real. Neste departamento, continua a ser a Disney a segurar faca e queijo na mão.

E, sejamos justos, não existe (nem deve existir) problema algum. Apesar de a qualidade desses produtos se ter tornado imprevisível – por vezes, a fornada “live-action” resulta numa deceção, num agridoce –, as receitas continuam a enviar uma mensagem muito clara: os espectadores querem ver recontadas as histórias que os levaram a se apaixonar por histórias em primeiro lugar.

Por outro lado, supõem-se que, face à insatisfatória relação qualidade/rentabilidade, a plataforma de streaming da Disney tenha servido para escoar filmes “não merecedores” do lançamento nos cinemas internacionais. Eis que, ao contrário do que aconteceu com “Pinóquio” (2022) e “Peter Pan & Wendy” (2023), o facto de a nova versão de “A Pequena Sereia” (1989) ser projetada para todo o mundo leva a crer que esta terá contentado criativos e produtores do estúdio. E é provável que o venha a fazer, por igual, com os espectadores.

Em “A Pequena Sereia”, versão de 2023, se o espectador não se surpreender com a estrutura narrativa, as sequências musicais ou o desenvolvimento de temas e personagens, então, em princípio, tudo correu bem: nas mãos de Rob Marshall, realizador dos musicais “Chicago” (2002) e “Caminhos da Floresta” (2014), o novo filme sobre Ariel, a jovem sereia com uma curiosidade à flor da pele e deslumbrada por um príncipe humano, é uma história fiel ao material de origem. Mais importante: contada com carinho.

Apesar de atingido pelas interrupções da pandemia de COVID-19, o projeto teve mais tempo de pós-produção, evidente na (boa) orquestra de efeitos visuais, contrastando com recentes propriedades da Disney sem a mesma sorte.

Nadando para fora deste aliciante e melódico recife audiovisual, o que mais deve ser ressaltado é o elenco: na pele do Príncipe Eric, Jonah Hauer-King exibe um sorriso luminoso e destemido; o caranguejo Sebastião continua a roubar as respetivas cenas, suportado pelo trabalho de voz de Daveed Diggs; e fica assente que Halle Bailey foi uma escolha ideal para o papel principal, já que tanto recebemos uma Ariel com um arco idêntico ao conhecido como uma atriz de gama ampla, que cumpre com brio todos os requisitos, incluindo os vocais. Talvez nasça uma estrela.

Semelhantes elogios não podem ser feitos, infelizmente, acerca de Melissa McCarthy e Javier Bardem: para a icónica vilã Úrsula, a primeira encontra-se afetada e desfasada da caraterização original, talvez por a atriz ter um perfil demasiado simpático; o segundo parece genuinamente desinteressado, insuficiente para o magnânimo Rei Tritão.

Mesmo seguindo a fórmula, o filme de 2023 é bem mais longo do que a animação. O universo é expandido e a protagonista, muda e com um par de pernas por estrear, dá por si em novas situações caricatas e constrangedoras. Podem-se apontar aqui e ali alguns diálogos repetitivos e uma cena musical escusada, mas, para a dizer a verdade, se não figura entre os melhores “remakes” da Disney, “A Pequena Sereia” vence por mostrar gratidão a águas já exploradas. Há que saber jogar pelo seguro...