A HISTÓRIA: Depois de ter aceitado acolhê-lo contravontade, uma sobrevivente do Holocausto cria uma amizade improvável com o miúdo de rua desencantado com a vida que a assaltou.

"Uma Vida à Sua Frente": disponível na Netflix a partir de 13 de novembro.


Crítica: Daniel Antero

"Uma Vida à sua Frente" é uma narrativa que explora paralelos geracionais entre pessoas que buscam lar e dignidade, independentemente da sua origem, religião ou sexualidade.

O romance "La Vie Devant Soi", de Romain Gary, que já deu um filme ("Madame Rosa", Óscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1978), inspirou o realizador Edoardo Ponti para atualizar o cenário urbano, movendo as suas personagens de Paris para a cidade italiana de Bari, onde as ruelas transbordam com a crise de imigração.

Com nuances neorrealistas, Ponti embevece o seu filme numa atmosfera quente e luminosa, por onde se aventura Momo (Ibrahima Gueye), um miúdo senegalês que trafica droga e procura figuras paternais e maternais entre as várias figuras que o rodeiam: a transexual Lola (Abril Zamora), o muçulmano Hamil (Babak Karimi) e Madame Rosa, uma sobrevivente do Holocausto.

E detemo-nos nela pois é um privilégio assistir a uma performance outonal de Sophia Loren, agora com 86 anos.

Sempre a recordamos por encarnar a robustez e vitalidade da mulher italiana. Fogosa e maternal, grandiosa e intempestiva, tornou-se ícone da Sétima Arte ao vencer o Óscar de Melhor Actriz (um feito por "Duas Mulheres", na sua própria língua, em 1960) e construiu uma carreira sumptuosa, também premiada com uma estatueta honorária em 1990, com realizadores e produtores cúmplices como Vittorio de Sica, Ettore Scola e Carlo Ponti (o seu marido), onde se destacam, claro, vários filmes ao lado de Marcello Mastroianni.

Com um papel fugaz no musical "Nove", de Rob Marshall (2009) e outras aparições mais singelas nos últimos quinze anos, a atriz italiana dispensa floreados e emoções bravatas em “Uma Vida à sua Frente”.

Sob o olhar e direção do seu maior cúmplice, o próprio filho, refina a sua experiência e mestria, injetando a personagem de Madame Rosa de sabedoria e pureza, enquanto se subjuga a um corpo débil movido por uma mente que se desvanece, mas ainda com muito amor para dar.

E é esse carinho, alento e atenção que Momo procura, ele que se move com “Uma Vida à sua Frente”, cheia de alegrias e inconsequências, em busca de guardiã e guarida. Ibrahima Gueye é um talento genuíno e como Momo, tem aqui uma mentora e modelo única para encontrar o seu caminho.

Agradável, pronto para a lágrima, este filme feito por mãe e filho é um drama simplista e ternurento sobre uma amizade improvável. Com Sophia Loren é um evento.

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