“Como diz o meu amigo João Nuno Silva [autor do blog A certeza da Música] a luta não continua, a luta é contínua, e creio que é importante passar esta mensagem às novas gerações”, disse o músico de Coimbra à agência Lusa.
O álbum inclui também canções de Adriano Correia de Oliveira e Fausto, num total de 16, da corrente que se usou chamar 'canção de protesto' ou de intervenção, entre as quais “Espalhem a Notícia”, “Maio Maduro Maio”, “Tu Gitana”, “Por Este Rio Acima” e “Eu Vi Este Povo Lutar (Confederação)”.
“São 16 canções gravadas como se de uma apresentação ao vivo se tratasse, como se estivesse a subir a um palco, e aqui desdobram-se estes 'cantos do contra'. É um protesto feito de amor e vice-versa”, disse.
Miguel Calhaz acompanha-se apenas ao contrabaixo. “Decidi fazer uma abordagem apenas a solo, homenageando os nossos mestres cantautores”, disse Calhaz à Lusa.
No seu percurso, o músico foi experimentando, até entender que tinha “uma independência multiparcial, para fazer várias coisas ao mesmo tempo, isto é, cantar, tocar e fazer ainda percussão e harmónicos, e outros recursos do contrabaixo”.
“Comecei a aglomerar estes recursos e a tentar criar uma linguagem própria”, disse Calhaz.
“Iniciei com uns temas originais, depois fiz um trabalho que é o ‘Contemporânea Tradição’, dedicado às nossas raízes tradicionais, maioritariamente à música da Beira Baixa, e agora com este trabalho decido fazer uma abordagem, com estas técnicas, homenageando os nossos mestres cantautores”.
A celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos não foi alheia à escolha deste repertório, mas Miguel Calhaz realça que estes cantautores “estiveram sempre presentes”, desde a sua juventude, nas suas influências e na música que faz.
“Fui sempre muito marcado pela música do Sérgio Godinho, do José Mário Branco, do Zeca [Afonso] e do Adriano Correia de Oliveira, do Fausto. Na minha juventude, ouvi-os repetidamente, foram fontes de onde bebi muita água, tirei de lá muitas ideias, e pensei que era chegada a altura de lhes retribuir e tentar agradecer, com esta homenagem, tudo o que eles fizeram por este país”.
Sobre a escolha deste alinhamento, que inclui ainda canções como “Mariazinha”, “Erguem-se Muros em Volta” e “Epígrafe Para a Arte de Furtar”, Miguel Calhaz disse: “Tem muito a ver com a praticabilidade, em termos de eu conseguir pôr estas músicas nos dedos e na voz”.
“São músicas que conheço muito bem e que sei que, à partida, consigo obter resultados satisfatórios ao nível da performance; são músicas que eu consigo tocar e que conheço a fundo”, acrescentou o contrabaixista.
Miguel Calhaz afirmou que com este trabalho pretende “honrar a coragem de quem tanto lutou para que o legado destes cantautores chegasse até nós” e “é dedicado a quem trabalha para que não se esqueça este repertório e esta mensagem”.
“No fundo é espalhar esta valiosa semente e tentar combater esta aridez sintética dos dias de hoje que ameaça invadir os campos do pensamento fértil”, rematou.
Com o álbum “Contracantos” Miguel Calhaz celebra os 50 anos da Revolução dos Cravos, propondo uma releitura e reinterpretações de temas de cantautores de Abril, Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Fausto, José Mário Branco e Sérgio Godinho, recorrendo apenas à voz e ao contrabaixo.
Miguel Calhaz, músico e compositor, nasceu na Sertã, em 1973, e tem projetos musicais nas áreas do jazz e das Músicas do Mundo.
Em nome próprio editou os álbuns "Estas Palavras", em 2012, "vozCONTRAbaixo", em 2017 e "Contemporânea Tradição", no ano passado.
Venceu o Prémio José Afonso para um tema original, no 3.º Festival Cantar Abril, em 2011, o Prémio Adriano Correia de Oliveira, para a melhor recriação, em 2013, em 2013 e 2015, o Prémio Ary dos Santos para a melhor letra.
Licenciado em Educação Musical e em Contrabaixo/Jazz, e mestre em Ensino da Música Jazz, Miguel Calhaz é professor do Curso Profissional de Jazz e da Orquestra Geração, no Conservatório de Música de Coimbra.
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