A entrada fez-se de acordo com pelo menos dois dos motes do espectáculo que Maria Bethânia anda a levar pelo mundo, “Amor, Festa e Devoção”. A cantora brasileira pegou nos dois últimos para dar início ao seu concerto no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais, com “Santa Bárbara”.

Um registo que continuou durante mais um par de canções, como “Encanteria”, música que dá título a um dos últimos discos lançados por Maria Bethânia, e na qual lançou o verso “Quem clareia aqui sou eu!”, que poderia muito bem ser a máxima da prestação de Bethânia no concerto frio e ventoso de ontem.

Na verdade, quem olhava para o palco quase que se conseguia esquecer desse pormenor tal o magnetismo da interpretação de Bethânia e do virtuosismo dos músicos que a acompanharam. Os longos cabelos que pareciam voar em redor da cantora e as muitas pétalas vermelhas que se passeavam no palco ao sabor do vento e pelos pés de Bethânia eram os únicos sinais.

Depois do início festivo, o concerto seguiu outro rumo. A festa deu lugar ao amor, e este juntou-se à devoção para entusiasmo de muitos, que aplaudiram entusiasticamente canções como “É o amor outra vez”, “Fonte” ou o já clássico “Explode coração”, cantado numa soberba versão à capela.

“Balada de Gisberta”, composta por Pedro Abrunhosa, encerrou o primeiro acto do espectáculo. Maria Bethânia regressou com uma canção do irmão, Caetano Veloso. Durante a noite já tinha interpretado “Queixa”, também de Veloso,mas foi com “Não Identificado” que Bethânia revelou um pouco mais sobre a raíz do espectáculo.

Esta última seria a canção de Caetano que o seu pai preferia e Maria Bethânia gosta de imaginar que ele pensava na sua mãe, Dona Canô, quando a ouvia. É isso que Bethânia diz sentir quando a ouve e, aproveitando o seu talento, canta-a em homenagem também.

Uma homenagem que se estende por todo o espectáculo e que começa no título. Porque, afirma Bethânia, foi com “amor, festa e devoção” que Dona Canô sempre viveu (e continua a viver).

Um espírito que se estendeu até ao público. Até porque com um público fiel, como o português é em relação à intérprete brasileira, a festa, o amor e a devoção estão sempre presentes e prometem durar enquanto Bethânia continuar assim.

Antes de Bethânia, Celso Fonseca proporcionou um concerto curto em que interpretou composições suas mas também de Rita Lee e Vinicius de Moraes (no melhor momento do concerto) e canções popularizadas pela Banda Eva (“Beleza Rara”) ou MC Leozinho (“Ela só pensa em beijar”). O músico brasileiro, apesar do tom morno da actuação, conseguiu até ao final cativar uma fatia cada vez maior do público presente.

Frederico Batista (Texto) e Vera Moutinho (Fotos)