O corpo de Rui Mingas, que morreu em Lisboa no dia 4 de janeiro, chegou na quinta-feira a Luanda, palco das cerimónias fúnebres que decorrem no quarteirão do antigo exército (Ex-R20) e onde marcaram presença altas figuras do Estado angolano, incluindo João Lourenço, Presidente da República e do partido Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que governa Angola desde a independência, em 1975.

Também o embaixador português em Angola, Francisco Alegre Duarte, se juntou às homenagens ao nacionalista, um “homem multifacetado” e de “muitos talentos” que “deixa muitas saudades”.

“Serviu Angola, serviu a causa nacionalista, mas também contribuiu para a amizade entre Portugal e Angola”, disse Francisco Alegre Duarte, salientando que Rui Mingas, que morreu com 84 anos, se destacou na cultura, na música, no desporto, na poesia, na diplomacia.

“É uma figura que suscita o maior carinho, tanto em Angola, como em Portugal e devemos-lhe muito”, sublinhou, acrescentando que toda a sua obra é muito conhecida nos dois países, sobretudo os “Meninos do Huambo”, uma música “ao serviço da causa nacionalista”, mas que contribuiu para aproximar os dois povos.

Mário Pinto de Andrade, deputado do MPLA, académico e reitor da Universidade Lusíada – a primeira universidade privada angolana, a cuja criação esteve ligado Rui Mingas - manifestou-se “triste e consternado” com a morte do nacionalista e coautor do hino de Angola, a par do escritor Manuel Rui.

Descreveu Rui Mingas como um bom cidadão e amigo, a quem atribui o mérito de ter musicado grandes poetas angolanos, como o primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, Mário Coelho Pinto de Andrade ou Viriato da Cruz, ambos membros fundadores do MPLA.

“Alguns desses poemas foram de poetas do verdadeiro nacionalismo angolano que lutaram contra o colonialismo português e Rui Mingas valorizou-os, cantando e musicando esses poemas que ficaram no coletivo de todos os angolanos como músicas de resistência e do amor à Angola, marcando toda uma geração”, disse.

Além das atividades como músico, embaixador, político, Mário Pinto de Andrade destacou o seu envolvimento na educação, pela dedicação ao projeto da Universidade Lusíada, que “contribuiu muito para a formação do capital humano angolano”.

A ligação a Portugal fez-se também através do desporto, já que Rui Mingas foi atleta do Benfica, e da diplomacia, tendo sido embaixador em Lisboa na década de 1990.

“Aproveitou as pontes que tinha do seu tempo da juventude para fortalecer a cooperação do Estado angolano com o Estado português” e a solidariedade entre os dois povos, declarou Mário Pinto de Andrade, acrescentando que “Angola precisa de preservar o pensamento e contributo dos seus melhores filhos” porque ainda está na construção da nação.

Nas cerimónias fúnebres estiveram presentes membros do executivo, entre os quais o ministro da Cultura, Filipe Zau, a presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, presidentes dos tribunais superiores, o procurador-geral da República e dirigentes do MPLA, bem como alguns músicos.

O Presidente da República, João Lourenço, fez uma curta incursão no local, acompanhado de Ana Dias Lourenço, expressando na mensagem que deixou no livro de condolências a sua “profunda consternação” pela morte de Rui Mingas.

Além de “símbolo de resistência do poder colonial”, João Lourenço assinalou que lhe pertencem vários clássicos da música angolana e destacou os cargos de responsabilidade política que exerceu a nível externo e interno.

Esta sexta-feira, o corpo de Rui Mingas sairá do velório em cortejo para a igreja do Carmo, onde se realizará uma missa, seguindo depois para o cemitério do Alto das Cruzes, onde será sepultado.