A 14.ª edição do Boom Festival, em Idanha-a-Nova, arrancou na quinta-feira e, durante uma semana, a arte, a música, a cultura e a natureza marcam a vida de cada um dos 39 mil ‘boomers’ presentes.
São cerca de 11h00 quando a reportagem da agência Lusa chega à última porta antes da entrada para a ‘Boomland’. A organização deste festival bienal não permite que ninguém entre na herdade da Granja sem passar por um autêntico controle.
Uma das responsáveis pela comunicação do Boom Festival, Isabel Marques da Costa, aguardava a reportagem. Serviu de guia até ao parque de estacionamento, onde ficaram as viaturas, e mostrou o caminho a pé até uma das zonas de restauração do festival. A partir daí, cada um fica por sua conta.
A ‘Boomland’ já fervilhava de vida, numa mistura de cores, pessoas, línguas, numa espécie de mundo novo onde "ninguém julga" ninguém e é possível sentir "uma paz enorme", como alguns 'boomers' disseram à agência Lusa.
Dois jovens, Edgar Antunes e Salvador Esteves, com 22 e 18 anos, respetivamente, junto a um dos bares do recinto, falam com a Lusa sobre as razões de estarem no Boom Festival. A resposta não tarda.
Em uníssono afirmam: “Estamos cá para trabalhar e para nos divertirmos”.
Ambos trabalham na área da limpeza até às 19h00. A partir daí, aproveitam a noite para se divertir. Durante uma semana trabalham e vivem na ‘Boomland’, numa tenda de campismo, por opção.
Edgar já conhecia a Boom Festival. Esta é a sua segunda presença em Idanha-a-Nova.
“É uma boa experiência. Aqui consigo ganhar algum dinheiro, faço amizades e posso curtir o Boom”, assegura.
Salvador, um pouco mais tímido, lá foi acenando com a cabeça, numa posição de concordância.
“Estou aqui pela primeira vez. Malta conhecida falou-me disto e como tive oportunidade de vir para cá trabalhar, aproveitei. Dá para ganhar dinheiro e divertir-me”, disse.
Junto à margem da barragem Marechal Carmona, um casal britânico, sentado, observava a água. James e Edith são estreantes no Boom Festival.
“Estamos cá pela primeira vez. Éramos para ter vindo em 2020. A covid-19 não o permitiu. No ano passado não tivemos oportunidade, mas este ano cá estamos”, explicou a jovem londrina.
Para já, as expectativas dos dois ingleses são grandes. Estão a gostar do espaço, das pessoas e estão ansiosos pela noite.
“Uns amigos que já cá vieram, disseram-nos que à noite o Boom se transforma num outro mundo de sons, espetáculo, luz e cor. Estamos ansiosos”, diz James.
Na 'Boomland', ao início da tarde, o sol começa mesmo a escaldar e o jovem casal procura as sombras da zona da restauração.
Do que mais gostaram até agora? Olham um para o outro e deixam-se rir: “Não há horas. O tempo aqui não conta. Andamos descalços, quase nus e ninguém se importa. Ninguém nos julga. Sentimos uma paz enorme”, assegurou Edith.
Duas jovens sorridentes, ambas portuguesas, uma oriunda da margem Sul e a outra de um pouco mais perto, da aldeia de Ladoeiro (Idanha-a-Nova), Ana Fanha e Ana Silvares, de 23 e 22 anos, estão também a trabalhar no Boom Festival.
A jovem da Margem Sul, Ana Fanha, está pela primeira vez no festival. Veio como voluntária.
“Como costumo passar as férias na zona achei interessante conhecer o Boom. Estou a gostar da experiência e tenciono repetir”, disse.
Ana Silvares marca presença no seu terceiro festival Boom. “Tenho vindo para cá sempre a trabalhar. As pessoas são 'super simpáticas', o ambiente é bom e dá para fazer boas amizades”, sublinhou.
Na ‘Boomland’, as 39 mil pessoas esperadas para esta edição, vindas de 178 países, procuram sobretudo um mundo sem horas nem pressas, onde o ritmo diário, durante uma semana, é marcado pelo nascer e pôr do sol.
Artur Mendes, da organização do festival, já explicara à agência Lusa que "o tema que inspira este encontro", este ano, "responde a uma exigência atual e urgente: o amor radical".
"O que celebramos aqui é essa necessidade de travarmos a desunião, o preconceito, a separação e o julgamento sobre os outros que, erradamente, estupidamente, julgamos serem diferentes de nós. O que vamos celebrar aqui é o poder transformacional do amor e da convivência e do respeito pela natureza e pelo outro”.
O responsável da organização da 14.ª edição do Boom Festival salientou ainda que a agenda de música e de debates para esta edição “é extraordinária”.
“Temos artistas, pensadores e terapeutas de todo o mundo para nos ajudar a viver melhor e a compreender melhor. Os palcos e a arte que apresentamos refletem essa preocupação e vão servir de incentivo ao público para que se sinta confortável e inspirado”, frisou.
O Boom Festival oferece 21 áreas de programação e conta com a presença de 1.128 artistas de 29 nacionalidades.
O destaque para este ano vai para uma escultura de Michael Benisty.
Após quatro anos sem edição devido à pandemia da covid-19, a organização decidiu fazer duas edições consecutivas, em 2022 e 2023.
Para fazer face à presença dos 39 mil ‘boomers’, que até ao dia 27 vão estar instalados na herdade da Granja, existem na ‘Boomland’ 45 restaurantes e supermercados bio e estão registados 32 fornecedores (15 do distrito de Castelo Branco, 16 nacionais e um internacional).
No Boom estão a trabalhar cerca de duas mil pessoas de 86 nacionalidades, entre colaboradores e voluntários.
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