"Que saudades da minha terra / Minha Linda Vidigueira / Trago-te no coração / Cantando à minha maneira", canta, a solo, Vasco, o ponto do grupo, dando o "pontapé de saída" da moda "Vidigueira que és nossa terra".
O grupo, uma ideia da Câmara de Vidigueira, foi criado em 2010, na Escola de Música da autarquia, para "preservar" o cante alentejano, explica à agência Lusa o professor Augusto Ferreira.
Através da criação do grupo, um dos mais jovens do país, tendo em conta as idades dos cantadores, entre os nove e os 14 anos, "procurou-se incentivar as crianças e os jovens para o cante alentejano", frisa, defendendo a necessidade de "preservar o que é nosso". Para tal, sustenta, "uma mais-valia é, precisamente, começar pelas crianças, pelos jovens, procurar que eles sintam o seu cante, que vem dos antepassados", para o "tentar potenciar".
No ensaio, sob os "ouvidos atentos" de Augusto e do ensaiador do grupo, José Arrojado, do Grupo Coral "Os Vindimadores de Vidigueira", a moda continua pela voz, a solo, de Joana Pires, de nove anos, a alto do grupo.
Depois da criação e de vários espetáculos do grupo, a Câmara de Vidigueira concluiu que "seria uma mais-valia levar o cante alentejano para a comunidade escolar", explica. Neste sentido, a autarquia lançou um projeto que criou aulas de cante na Escola de Música e nas escolas do 1.º ciclo do Ensino Básico do concelho, ministradas por Augusto Ferreira e José Arrojado.
Segundo o município, atualmente, as aulas nas escolas básicas envolvem 154 crianças de nove turmas dos 3.º e 4.º anos. Atualmente, o grupo é constituído por 14 crianças e adolescentes que frequentam aulas deste canto típico nas escolas básicas ou na Escola de Música.
"Sempre gostei muito de música, gosto de todos os tipos, mas os cantares alentejanos são aqueles que me tocam", conta à Lusa Vasco, justificando, assim, a sua entrada no grupo. Integrar o grupo, "é importante", frisa Vasco, que, de vez em quando, se esquece das letras das modas, lamentando: "Muita gente não gosta de cantares alentejanos, não é para todos".
O grupo tem contado com uma recetividade "excelente" da parte do público e recebe "constantemente solicitações" para atuar, mas "muitas vezes têm que se recusar", porque são crianças e adolescentes com uma vida escolar, mas vão atuando "com termo", porque os espetáculos são "um incentivo para eles”, conta o professor.
Segundo Augusto Ferreira, a eventual classificação do cante alentejano como Património da Humanidade "impõe a todos os alentejanos uma responsabilidade acrescida" em potenciar "de forma mais elaborada e científica" o ensino do cante.
A candidatura "é espetacular, das melhores coisas que podiam ter acontecido" e, para os alentejanos, "é maravilhoso, dá mais força e mais vontade de cantar", afirma José Arrojado.
Depois do coro, a moda termina, como começou, pela voz de Vasco: "Dizem que o cantar tira / As mágoas ao coração / Tanto que eu tenho cantado / As minhas ainda cá estão".
"Que tal [a interpretação da moda]?”, pergunta Augusto a José, que responde: "Está boa. Está a ficar em condições".
@Lusa
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