Palco Principal - Como é que começaste a fazer música?

J. P. Mendes - Eu sempre vivi a ouvir discos e a tocar músicas de outras pessoas em casa. Com o tempo, comecei a compor os meus temas, mas tive vários projetos que não chegaram, sequer, a ver a luz do dia. Coisas que nem eram cantadas em português, visto as minhas influências serem todas estrangeiras. A entrada, propriamente dita, no domínio público surgiu com Capitão Capitão, a partir do momento em que o Pedro Valente da Azáfama me convidou para gravar o EP de estreia, que saiu em 2010.

PP - É inevitável perguntar-te: porquê Capitão Capitão?

JPM - Vem do facto das canções serem muito minhas e de eu não querer dar um nome próprio ao projeto. Queria que tivesse o seu próprio nome, não digo um alter-ego, mas uma espécie de pseudónimo. E escolhi Capitão Capitão porque me lembrei da clássica frase "oh captain, my captain" do filme "Clube dos Poetas Mortos".

PP - Em 2010, lançaste o teu EP homónimo e agora, em 2013, voltas a lançar outro EP. Por que não um álbum de longa-duração?

JPM - Essa pergunta faz todo o sentido. Efetivamente, a ideia era editar um longa-duração, só que durante o processo houve coisas que correram de uma forma diferente daquilo que estávamos à espera. Entre estes dois EPs, comecei a tocar ao vivo num formato mais rock e houve canções que deixaram de ter aquela tónica tão acústica do primeiro disco. Houve uma clara mudança de sonoridade. Entretanto, o Bernardo Oliveira começou a tocar bateria comigo, o Martim Torres, que já tinha tocado contrabaixo no primeiro EP, participou em dois concertos... Ou seja, havia canções e condições para se gravar um disco. Os temas já estavam fechados, não fazia sentido estarmos à espera mais tempo, e então decidiu-se avançar na construção de um EP.

PP - Como dizias anteriormente, houve uma mudança de sonoridade do primeiro para o segundo EP. O que é que originou esta mudança?

JPM - Acho que não foi nada em especial. Eu acho que qualquer pessoa que toca, seja em banda ou sozinho, sente a energia dos instrumentos elétricos e do rock. E realmente acho que foi isso que me aconteceu. Quando eu comecei a tocar ao vivo com o Bernardo e com o Martim, toda a energia elétrica voltou a brotar em mim - algo que não podia acontecer no primeiro EP visto serem coisas compostas por mim, em casa. "O Lugar", que podemos encontrar no meu EP de estreia, é um tema que já se afasta um pouco dos domínios do folk e que nos leva para uma matriz mais pop. Foi uma produção feita pelo José de Castro [Tupã Cunun] que também produziu o mais recente disco, a meias com o Bernardo Barata. Portanto, essa transição para esta vertente mais elétrica foi feita de forma natural, visto ser uma faceta que está muito presente em mim.

PP - Ao contrário das outras canções presentes no disco, o teu tema "Folhas" foi gravado em casa. Por que razão?

JPM - Depois de todo o processo de estúdio, surgiu-me um conjunto de canções que me apeteceu gravar em casa. Foi uma experiência. Dessa experiência nasceu o "Folhas". Não é uma canção perfeita, é um tema com produção caseira em que o take de voz, por exemplo, podia ter sido gravado noutras condições e com o outro tratamento, mas não. E é essa particularidade que a distingue das restantes. Foi algo gravado quase de forma espontânea. Não foi algo que eu tenha pensado de raiz.

PP - Há alguma mensagem escondida por detrás do numeral romano que dá nome ao teu EP?

JPM - A escolha desse nome foi mais por graça. É a ideia de ser uma segunda edição, obviamente que já houve uma série de bandas que o fizeram, desde os Led Zeppelin aos Crystal Castles e aos Unknown Mortal Orchestra. Neste caso, o número dois aparece em romano, apesar de não ter nada a ver com as figuras que aparecem na capa do disco, para dar mesmo essa ideia de que são duas peças. Os dois acaba por ser a repetição do um. E, de facto, este disco começou a ser preparado por duas pessoas, o Bernardo Oliveira e eu. Por outro lado, o disco tem um lado de estúdio e o lado caseiro do “Folhas”. Por isso, o dois tem a ver com o facto de ser a segunda metade e, ao mesmo tempo, o segundo passo depois do primeiro EP.

PP - Fala-nos um pouco sobre o teu single, "Memórias Curtas"...

JPM - Esta canção nasce de várias experiências que eu tinha gravado no telemóvel. Surge assim um pouco em forma de improviso. No início nutria uma relação de amor-ódio com a letra porque na altura achei que era algo pirosa. A canção inicialmente chamava-se "Memórias Curtas Em Curtas Memórias" e no fundo ilustra a ideia de que temos um registo de uma série de memórias na nossa mente. Algumas delas fazem-nos sentir envergonhados, outras nem por isso. Chegamos a uma certa altura em que podemos agradecer as coisas boas e as outras menos boas que nos aconteceram.

Manuel Rodrigues