Atualmente com quatro agrupamentos residentes, desde a Orquestra Sinfónica do Porto ao Remix Ensemble, passando pelo Coro e pela Orquestra Barroca, a Casa da Música criou condições “muito apelativas” para, inclusive, conseguir manter em Portugal intérpretes nacionais, segundo um dos entrevistados pela Lusa.

Filipe Quaresma, com 35 anos e natural da Covilhã, reconhece já se ter sentido aliciado para voltar para o estrangeiro, onde se formou e onde há mais concertos e cachês superiores, em particular face aos entraves colocados pela crise financeira.

“Se antigamente ser músico já era visto como um ‘hobby’, agora está muito pior”, referiu Filipe Quaresma, violoncelista da Orquestra Barroca e convidado do Remix Ensemble que colabora com grupos internacionais, mas constata: “Obviamente gosto muito de Portugal, gosto muito de cá viver”.

Aldo Salvetti é natural de Veneza e mudou-se para o Porto há quase 20 anos, onde é atualmente chefe de naipe de oboé na Orquestra Sinfónica.

Para o italiano, que facilmente pode ser avistado nas ruas da cidade na sua bicicleta, “o espírito da Casa [da Música] não é um espírito elitista, o espírito da Casa é fazer de uma música elitista acessível a todos”.

Isto porque recorda os conservadorismos existentes nas orquestras tradicionais, que fazem parte de “uma tradição que não foi questionada”, mas que, na Casa da Música, veio a ser “atualizada”.

“A Orquestra Sinfónica é o espelho da sociedade e ela tem de mudar com a sociedade”, refletiu Aldo Salvetti.

A Casa da Música “educou o público”, disse Salvetti, que considera que “o público do Porto já é um público conhecedor do repertório contemporâneo”, pelo que os próprios músicos sentem a sua abertura.

“Acho que a política da Casa é muito interessante e corajosa e contribuiu para fazer do Porto uma cidade com públicos disponíveis”, acrescentou o artista.

Os 10 anos de Casa da Música aberta ao público quase coincidem com os 10 anos de José Pereira no Remix Ensemble, violinista cujas ideias vão ao encontro das palavras de Aldo Salvetti.

“Houve um progresso enorme em termos de aceitação do público”, disse José Pereira, para quem “a Casa da Música é a referência do Porto e do país”, acima até de salas como a Gulbenkian, em Lisboa.

Ainda assim, José Pereira reconhece que os elementos de grupos como o Remix "abdicam de muita coisa", mesmo sem terem as "melhores condições contratuais", recordando uma das suas "lutas" que é a que os opõe aos recibos verdes.

@Lusa