No salão de baile, onde é mais usual ouvir sons latino-americanos, vão estar alguns dos nomes mais destacados do festival, como Miguel Araújo, a quem cabe o arranque, e Samuel Úria, que fecha a noite nos Fenianos. Pedro Puppe e Little Friend são os outros dois músicos a tocar naquele espaço.

O clube, fundado em 1904, não vive os dias esplendorosos da altura em que era o centro do Carnaval no Porto. Por isso, a perspetiva das multidões a encher aquele espaço reservado aos sócios suscita o entusiasmo do diretor Fernando Coimbra, que exclama: “Vamos plantar juventude”.

O "Fenianos" situa-se mesmo ao lado do edifício da Câmara, ou, como sustenta o seu diretor, “a Câmara é que é ao lado”, porque o clube, fundado por comerciantes e empregados das ferragens da rua do Almada, já lá estava quando se construiu os Paços do Concelho.

Com o lema “Pelo Porto”, a associação nascida no alvor do republicanismo propôs-se, como escreve a sua direção num livro de 1908, “pugnar em prol dos interesses materiais da capital do Norte” e “pensou imediatamente em transformar o tradicional e vetusto Entrudo, numa festa brilhantíssima e revolucionária, imprimindo-lhe o caráter que dá feição aos empreendimentos que se destacam por laivos de fundos de progresso e civilização”.

Segundo o historiador Helder Pacheco, no livro “Tradições Populares do Porto”, o Carnaval dos Fenianos teve um arranque auspicioso, mas acabou por esmorecer, para renascer entre 1954 e 1957, quando “voltou o monumental corso com carros alegóricos, que levou grandes multidões às ruas. Mas o carnaval deixara de ser um sentimento vivido e participado, para se transformar num espetáculo assistido”.

Nas vitrinas da sala da direção, envelhecidos álbuns de agradecimento e a comenda Ordem Militar de Cristo lembram os melhores tempos. Numa outra sala, um improvisado museu guarda peças que fizeram parte da história das noites de cinema, de ilusionismo, de marionetas, que animaram a sede do clube.

Mas Fernando Coimbra lembra que, “de há 50 anos para cá”, Rui Rio, como regista uma placa ainda bem dourada à entrada, foi o primeiro presidente de Câmara a atravessar a rua para visitar os Fenianos.

“As pessoas agora têm tudo em casa, a televisão, a música”, afirma o diretor do clube que tem agora cerca de 400 sócios, mas que já teve muitos menos. O espírito das famílias que enchiam o clube há muito que se foi, admite Fernando Coimbra.

Os Fenianos têm biblioteca, bar, funciona a sala com os bilhares aquecidos - de onde ainda há pouco saiu um campeão nacional às três tabelas -, o clube de ilusionismo, o grupo coral e, de quando em vez, ainda há bailes.

Mas o que sobra são as salas vazias, que no sábado vão conhecer os sons do D’Bandada e que, já na sexta, vão ser palco para a transmissão do programa da manhã de maior audiência da rádio portuguesa. O clube que sempre teve ligações à música - com associados como o maestro Resende Dias ou a fadista Cidália Meireles, que ali deu aulas de canto - vai, com o festival, abrir as portas à cidade.

Uma atitude bem contrária à de uma direção que um dia decidiu proibir as crianças de irem aos bailes, lamenta ainda hoje Fernando Coimbra. “Acabou a juventude, essa juventude que havia aqui desapareceu toda”.

@Lusa