“Começámos a pensar, no pós-covid, que estava na altura de mostrar à cidade quais são os instrumentos que temos e, de certa forma, reconciliá-los com a comunidade”, explicou à agência Lusa a diretora artística do I Ciclo de Órgão de Leiria.
A vontade para esse reencontro com a comunidade surgiu de um certo silenciamento dos órgãos de Leiria, atualmente quatro.
“A cidade conta com a presença de um número pequeno de instrumentos”, notou Rute Martins, que também é organista.
O mais relevante, descreveu, é o órgão da Sé Catedral, que está a comemorar 25 anos. A efeméride foi assinalada com um concerto com o alemão Wolfgang Seifen, em outubro de 2022.
“Foi um bálsamo ver a catedral cheia para ouvir a música para órgão de um grande improvisador. Queremos que esta dinâmica continue na cidade, que os instrumentos não se percam e que sejam valorizados”.
Rute Martins lembrou que esse órgão de Leiria, inaugurado em 1997, “durante muito tempo foi o maior entre Lisboa e Porto”.
“Durante o primeiro ano, houve concertos regulares todos os meses, que eram bastante participados pela população”, recordou. Mas, depois, essa programação desapareceu, ambicionando o novo ciclo que estreia em março recuperar a ligação entre o público e os órgãos de Leiria.
Além do grande órgão da Sé de Leiria, o ciclo do Orfeão vai passar pelo Seminário Diocesano de Leiria, onde mora outro órgão, que “atualmente não está nas melhores condições”.
Mas nele será feito um pequeno apontamento para um programa onde o destaque será o repertório para canto e harmónio de arte, “um ilustre desconhecido do mundo instrumental, mas que será uma surpresa e uma inovação a nível regional”.
Outro destaque do ciclo será a utilização do vistoso órgão ibérico da igreja de Nossa Senhora da Encarnação, construído há dois séculos por Joaquim António Peres Fontanes para a Sé de Leiria. Em 1995, foi instalado na localização atual.
“Tem 200 anos e necessita de continuar a ser valorizado pelas gerações futuras. É um instrumento histórico, de armário, e quem entra na igreja não se apercebe de todo que é um instrumento, porque está fechado. Mas quando se abre é o esplendor total”, conta a organista, realçando “a ótima potência sonora” e o timbre, “bastante diferente do órgão da Sé”.
Segundo Rute Martins, a intenção é fazer crescer o Ciclo de Órgão de Leiria no futuro.
“Este primeiro ciclo é pequenino, mas queremos expandi-lo no próximo ano e torná-lo internacional”, apresentando “intérpretes de outros países da Europa”.
O primeiro concerto, no dia 10 de março, intitula-se “Um trio que canta” e junta na Sé de Leiria Rute Martins (órgão), Carla Antunes (flauta transversal) e Gonçalo Pereira (fagote).
Na Igreja do Seminário Diocesano, João Paulo Ferreira (contra tenor) e João Santos (harmónio de arte Mustel) apresentam “Inspirando ar, expirando música”, no dia 11 de março.
O ciclo encerra com “Música para instrumentos de tecla”, em 12 de março, Samuel Monteiro e Guilherme Faure, da Universidade de Aveiro, a tocarem o órgão do Santuário de Nossa Senhora da Encarnação.
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