Até chegar a vez de Lauryn Hill subir ao palco o público presente na Praça do Comércio ainda ouviu mais duas vozes . Primeiro, os portugueses Seda, que animaram aqueles que se deixaram convencer pelas suas versões a baixa rotação de clássicos da música portuguesa e deixaram indiferentes outros tantos.
Logo de seguida, a inglesa Estelle subiu a fasquia. Num concerto que misturou soul, R&B e pop em doses saudáveis, a londrina interagiu com humor com o público português, deu conselhos para melhorar a auto-estima de todos, cantou The Supremes e Coldplay e chegou a ter no palco um jovem da primeira fila que exibiu os seus confiantes passos de dança. Depois de êxitos como “One Love” (a música de David Guetta a que deu voz) ou “No Substitute Love” o concerto não podia terminar senão com “American Boy”…
E o palco estava livre para Ms Lauryn Hill. E, enquanto alguns espectadores aguardavam ansiosos, outros faziam o que podiam para aparecer nos ecrãs gigantes. Antes da actuação da norte-americana, o DJ procurou animar a plateia com sons do universo hip-hop, de Kanye West a Jay-Z, ao mesmo tempo que a banda se preparava e se resolviam alguns problemas técnicos.
Por volta da uma hora da manhã, o entusiasmo do público triplicou com a entrada de Lauryn Hill, que exibiu, logo na primeira música, “Lost Ones”, o estilo que ia dominar a noite. “When it Hurts so Bad” surgiu quase irreconhecível com os novos arranjos.
As duas guitarras, os dois baixos e a bateria bem audível quase abafaram, no início, a voz mais aguardada da noite. Mas foi esta a atitude que Hill quis manter durante o concerto: vigorosa e selvagem. Aqueles que se recordavam da Lauryn Hill do álbum “The Miseducation…” podem ter ficado desiludidos com este começo.
Uma sensação que provavelmente começou a mudar com a versão eficaz de “Ex Factor” e com a interpretação de “Zimbabwe”, de Bob Marley. Logo de seguida, o ritmo abrandou ligeiramente e foi com as delicadas “To Zion” e “Just Like Water” que muitos conseguiram encontrar a Lauryn Hill que os marcou há uns anos.
Depois de uma versão menos feliz de “Forgive them Father”, Lauryn Hill perguntou: “Can we take it back?”. O mote perfeito para um regresso aos The Fugees, e aos tempos em Hill era L-Boogie,que começou em modo acelerado com “How Many Mics”. Pelo meio de clássicos do hip-hop como “Fu-gee-la” ou Ready or Not” (os momentos mais altos em termos de entusiasmo do público), ainda houve tempo para uma versão de “I only have eyes for you”, a música samplada em “Zealots”, que se ouviu logo de seguida.
“Killing me Softly” anunciou o fim do concerto, já com o público a entoar em coro os versos da música e Lauryn Hill a acolher os merecidos aplausos de uma noite em que se mostrou empenhada em regressar de vez, depois dos anos em que deixou a sua carreira na prateleira.
No encore, “Turn the lights down low” e “Doo Wop (That Thing) ” foram o final ideal para uma noite em que a maior parte ouviu pela primeira vez ao vivo canções que marcaram musicalmente uma época. E, muitos deles, devem ter saído com uma certeza: Ms Lauryn Hill está de volta.
Texto: Frederico Batista
Fotos: Vera Moutinho
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