"A novidade [desta edição] é que vamos ter um concurso de fado [...] para promover um clube de fado", contou à Lusa o cônsul-geral de Portugal em Goa, António Sabido Costa, adiantando que já há mais de 50 concorrentes inscritos.

O diplomata explicou que o fado, especialmente o de Lisboa, tem muitos adeptos naquele estado indiano, que até 1961 foi uma colónia portuguesa.

Já existem muitos intérpretes de fado na região e há mesmo uma noite de fado por mês em Pangim, capital de Goa, mas o objetivo é selecionar um núcleo de jovens artistas que venham a estar na base do clube de fado que será lançado no final da Semana da Cultura para dar formação musical e organizar noites de fado noutras partes de Goa.

A Semana da Cultura, que começa a 25 de outubro, encerra a 18 de janeiro, para coincidir com o início dos Jogos da Lusofonia, um evento desportivo que junta atletas dos países de língua portuguesa e que este ano decorre também em Goa.

Embora em 2008 tenha durado uma semana, este ano a iniciativa foi estendida por três meses para permitir um maior acompanhamento, contendo ainda assim sete eventos.

O certame começa com uma exposição de pintura dos artistas goeses Rajesh Salgaoncar, Harshada Kerkar, Salvador Fernandes e Loretti Pinto, e inclui um evento de 'tiatr' em concanim, produzido pelo "mais reputado tiatrist", Tomazinho Cardozo.

"Tiatr é uma espécie de teatro de revista muito popular em Goa, sobretudo entre a comunidade cristã, tendo sido desde a sua criação, nos finais do século XIX, um dos principais veículos da promoção da língua concanim em Goa", explicou o cônsul-geral.

Um festival de gastronomia tradicional goesa e indo-portuguesa, outro de cinema lusófono, com a participação do Consulado-Geral do Brasil em Bombaim, e um concerto da fadista Cuca Roseta, que visita o estado indiano pela primeira vez, são outros momentos previstos.

O espetáculo da fadista cumpre uma tradição da Semana da Cultura, que tem tido sempre a participação de um artista de Portugal. Os fadistas Ana Maria Bobone e Miguel Capucho e os Deolinda foram alguns dos artistas que por ali passaram em edições anteriores.

Organizada e quase totalmente financiada pela sociedade civil goesa, nomeadamente os clubes associativos Vasco da Gama, Nacional e Harmonia, a Semana da Cultura "visa preservar a influência portuguesa e ocidental em Goa", disse o cônsul-geral.

Mais de 50 anos depois da saída dos portugueses da Índia, a cultura portuguesa continua presente em Goa, com um número crescente de estudantes de português nos últimos anos.

Atualmente, mais de 30 escolas e universidades têm a Língua Portuguesa nos currículos, havendo duas licenciaturas em português, além de um mestrado em estudos portugueses, este último na Universidade de Goa.

A música, as tradições e a gastronomia de influência portuguesa mantêm-se presentes em muitas famílias e António Sabido Costa estima que "grosso modo, cerca de 10 mil pessoas estejam, de uma forma ou outra, envolvidas nas atividades que visam preservar a cultura de influência portuguesa".

O objetivo Semana da Cultura é por isso "manter viva a herança portuguesa", que ao fim de "um longo interregno quase sem relações Portugal-Goa corria o risco de se perder", disse o cônsul.

As instituições portuguesas, nomeadamente o consulado-geral, o Camões e a Fundação Oriente estão associados ao evento, articulando as suas atividades culturais de forma a serem compatíveis com esta semana, mas o certame decorre "quase sem encargos para o Estado português", sublinhou ainda António Sabido Costa.

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