Ela foi um ícone tanto pela sua atitude punk e sincera como pelos seus sucessos que marcaram uma época, como "Girls Just Wanna Have Fun". Aos 71 anos, a cantora americana Cyndi Lauper embarca numa digressão de despedida.

A série de espetáculos irá levá-la pela América do Norte a partir de outubro antes de seguir para a Europa em fevereiro.

Lauper vendeu mais de 50 milhões de álbuns graças a sucessos como "Time After Time" e "True Colors", sem deixar de trabalhar apesar de estar menos nos holofotes.

Em 2013, ganhou um prémio Tony pela banda sonora do musical da Broadway "Kinky Boots".

Foi expulsa de duas escolas quando era jovem. De onde vem essa rebeldia?

Cyndi Lauper: Não fui eu, foram eles! Confrontei um padre que disse que a minha mãe iria para o inferno. Que tipo de pessoa diz a uma menina de oito anos que a mãe dela vai para o inferno? Na segunda vez, perguntei a uma freira se ela ainda menstruava e expulsaram-me. Queria sair porque naquela escola... bem, algumas pessoas não deveriam tomar conta de crianças.

Os sucessos ainda parecem novos quando os toca ao vivo?

Cada vez é diferente, mas a razão pela qual as pessoas realmente vêm é para se ligarem ao passado. Elas querem ouvir as suas recordações. Se puder adicionar algo extra, isso é bom. Entre o ritmo e o som, às vezes consegue-se 'viajar'. Essa é a melhor parte de se apresentar porque acho que as pessoas cantam para 'viajar', para se sentir melhor, para voar.

Quando era criança, a vizinha fazia a mesma comida todos os domingos, limpava toda a casa e à tarde sentava-se com um acordeão e tocava "Volare". Eu era adolescente, pensava: 'Vão me matar... Quantas vezes preciso que me lembrem que sou italiana?' Mas agora percebo o que ela realmente dizia: "Tenho asas no meu coração". Quando os cantores dão tudo de si, internamente estão a voar.

O que a motivou a lutar pelos direitos dos homossexuais?

Sou amiga e membro dessa grande família. E não é possível ficar parada a assistir enquanto discriminam a sua família. Houve muitos progressos, mas agora há muitos retrocessos e novamente muito medo e ódio. Penso na minha irmã Ellen, que faz parte dessa comunidade. Nunca teria feito nada sem ela.

Qual a recordação mais importante da sua carreira?

Tive que lutar por tudo o que queria, simplesmente porque não me dariam. Não aproveitei algumas oportunidades porque queria as coisas de uma determinada maneira. Não estava disposta a esquecer por que entrei neste mundo: para me sentir livre, não para ser um passarinho engaiolado.

O prémio que teve mais significado para mim foi provavelmente o da revista Ms. [prémio de Mulher do Ano], em 1984. A revista foi fundada por Gloria Steinem, uma grande líder dos direitos civis. Foi muito influente para mim enquanto crescia. Claro, o Tony foi importante, assim como os Grammy. Não que tenha muitos Grammys, provavelmente porque nunca contei até dez antes de falar. Talvez tivesse sido uma boa ideia.