Com olhares surpresos e ansiosos, o público aconchegou-se dentro da sala.O cenário não podia ser mais acolhedor, mas, ao mesmo tempo, taciturno e sombrio, como Pedro Gonçalves e Tó Trips já nos habituaram. A sala não estava no seu modo convencional – no meio estava um estrado, uma espécie deilha onde se encontravam todos os instrumentosda duplae rosas vermelhas espalhadas no chão.

Tal como havia sido prometido e anunciado, os Dead Combo revisitaram todos os seus álbuns e ainda brindaram todos os presentes com músicas novas. Deram início ao concerto com Paredes Ambience, do álbum "Guitars From Nothing", gravado em 2002 e editado apenas em 2007. Seguiram-se Rua das Chagas, Radiot - uma música que não tocavam "há bué e que conta a história entre um rádio e um idiota”, e o êxito Quando a Alma Não É Pequena.

Entre um cigarro euma bebida, os Dead Combo trocavam de instrumento (entre guitarras e violoncelos) e vibravam ao som das suas próprias composições. Os olhares dos presentes tornavam-se densos e alegravam-se quando Tó Trips explicava, de forma muito sucinta, a história de cada música ou anunciava o título de alguma, em forma de sussurro. Os “obrigados” foram mais que muitos, bem como osaplausos.

Presentearam o público com uma versão da banda americana Santo & Johnny, intitulada Sleep Walk, seguindo-seum momento ao piano com Pedro Gonçalves a tocar Esperanza e Um Homem Atravessa Lisboa Na Sua Própria Bicicleta.

E eis que chegaram os novos temas: Lisboa Mulata e Cachupa Man, onde a guitarra e o mini piano de sopro remetem-nos a ambientes latinos.Seguidamente tocaram uma versão de um fado de Amália Rodrigues, chamado Esse Olhar Que Não Era Só Teu, e uma nova música, A Marcha dos Esquecidos.

Terminaram com três músicas do primeiro álbum: Rumbero, Ribot e Cacto.

Falar sobre os Dead Combo é esgotar as palavras de sensibilidade e admiração pelo seu percurso artístico. Depois do forte aplauso e ao fim de uma hora e meia a tocar quase ininterruptamente, Pedro Gonçalves e Tó Trips regressaram para um encore que incluiu Tejo Walking, Putos a Roubar Maçãs, do reconhecido álbum "Lusitana Playboy", e terminaram a trautear por toda a ZDB o refrão de Ai Que Vida.

Todo o concerto tratou-se de uma ode à música portuguesa. Ficamos,então, a aguardarmais novidades sobre o novo álbum, pois os Dead Combo preparam-se para entrar em estúdio e gravar novas melodias.

Ana Cláudia Silva