Mas os Deolinda são... fado, apesar disso tudo, e são muito mais que fado, por causa disso tudo e de tudo o mais que a sua música contém.
Uma música que vai à música popular portuguesa - um universo que aqui abarca José Afonso e António Variações, Sérgio Godinho, Madredeus e os «muito mais que fadistas» Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro - e vai ainda à rembetika grega, à música ranchera mexicana, ao samba, à música havaiana, ao jazz e à pop, numa confluência original e rara de músicas-irmãs ou primas umas das outras e que, nos Deolinda, fazem todo o sentido.
Nos Deolinda, a música e as letras (geralmente de um humor fino, mordaz, por vezes absurdo, de outras surrealista; mas também capazes de fazer lembrar a pena de José Afonso, como em «Clandestino» ou uma antiga tradição fadista, como em «Não Sei Falar de Amor») são, em todas as canções, de Pedro da Silva Martins, guitarrista do grupo que, juntamente com o irmão - e igualmente guitarrista dos Deolinda - Luís José Martins, tinha antes feito parte dos Bicho de 7 Cabeças.
Há dois anos, convidaram a prima Ana Bacalhau, então vocalista dos Lupanar, a cantar algumas das primeiras canções compostas para um novo projecto, ainda sem nome. E foi com ela - e com o contrabaixista Zé Pedro Leitão, também dos Lupanar, que se juntou ao projecto logo de seguida - que o conceito Deolinda começou a tomar forma. Um conceito que, com o desmembramento das duas bandas anteriores (Lupanar e Bicho de 7 Cabeças) nesse ano de 2006 e a vontade dos quatro em abraçar um projecto novo e original, cristalizou nos Deolinda.
Dois anos - e vários concertos memoráveis depois -, os Deolinda lançam agora o seu álbum de estreia, «Canção ao Lado», com catorze temas originais gravados pelos quatro nos estúdios Valentim de Carvalho, em Paço de Arcos, com produção do grupo e de Nélson Carvalho.
No álbum participam ainda o percussionista João Lobo (pandeiro em «Garçonete da Casa de Fado») e muitos amigos dos Deolinda - Mitó Mendes (A Naifa), Norberto Lobo (Norman/Munchen), Mariana Ricardo (ex-Pinhead Society/Munchen), Joana Sá (também ex-Pinhead Society, agora nos Power Trio, ao lado de Luís José Martins), Gonçalo Tocha, Didio Pestana (ambos ex-Lupanar), Artur Serra e Carlos Penedo (ambos ex-Bicho de 7 Cabeças), entre outros - nos coros de «Movimento Perpétuo Associativo» e «Garçonete da Casa de Fado».
Um grupo de amigos que se estende ao autor de banda-desenhada João Fazenda, que ilustrou o disco, e a Catherine Villeret e (mais uma vez) Gonçalo Tocha, que realizaram o divertidíssimo e surreal teledisco de «Fado Toninho», o primeiro single retirado de «Canção ao Lado».
António Pires
Para conhecer melhor os Deolinda visite: www.palcoprincipal.com/deolinda
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