Os seus discos ofereceram alguma da pop mais festiva da década de 1990, mas nos últimos anos cada novo álbum de Gloria Estefan falhou em atingir o impacto global desses tempos - "Gloria!", de 1998, foi provavelmente o derradeiro registo da sua fase mais bem sucedida.

Depois de alguns trabalhos em que as baladas se tornaram quase sempre parte essencial do alinhamento - como "90 Millas", de 2007 -, a ex-vocalista dos Miami Sound Machine parece decidida a recuperar os ambientes dançáveis a que muitos a associam. E assim chegamos a "Miss Little Havana", disco cuja capa garrida tem correspondência em canções feitas de ritmo e cor e que partilham uma atmosfera veraneante - ou, e já que estamos quase lá, de festa de passagem de ano.

Cocktail que vai do disco à salsa ou do funk ao R&B, o álbum convence-nos de que, aos 54 anos, Gloria Estefan ainda sabe como preparar uma festa, mesmo que o arranque seja bem mais sugestivo do que o final - e aqui o problema não é tanto da organizadora do evento, mas dos convidados.

Pharrell Williams trata da produção (e de alguma composição) da primeira metade do disco e é a ele que "Miss Little Havana" deve boa parte do seu apelo. Já quando a cantora não convoca o elemento dos Neptunes e dos N.E.R.D. e deixa as canções a cargo do seu marido, Emilio Estefan, cai nas tendências mais batidas da pop regada por eletrónica (e direcionada para as pistas).
É o caso de momentos como "On", "Make My Heart Go", da remistura de "Wepa" por Pitbull & R3hab (lá está) ou da versão (também dispensável) de "Let's Get Loud", single de Jennifez Lopez composto por Gloria. Só "Hotel Nacional", pelo exagero capaz de disputar com a Lady Gaga de "Born This Way", consegue ter alguma graça enquanto devaneio desavergonhadamente kitsch.

O que interessa de "Miss Little Havana" surge, então, logo ao início, quando Pharrell afasta a cantora da pop mais genérica para a aproximar das suas raízes (ainda que a produção não deixe de soar contemporânea, mantendo a marca de quem a assina).

A faixa-título, entre o hip hop e ritmos tropicais, é uma das mais conseguidas, embora os sopros e sobretudo a percussão de "Heat" também estejam entre o melhor do disco. A temperatura desce ligeiramente em "Say Ay", "So Good" ou "Time Is Ticking", mas é ainda mais do que amena e mostra uma aliança equilibrada entre tradição e modernidade. "I Can't Believe" convida-nos a celebrar numa "fiesta" que se revela mais pulsante em "Make Me Say Yes", a meio caminho entre Kelis (que também deve alguma coisa a Pharrell) e a Britney de "Gimme Me More".

E se os Buraka Som Sistema fossem de Cuba talvez fizessem algo como "Wepa", single tão repetitivo quanto funcionalquando a missãoé fazer mexer. Porque Gloria Estefan, pelos vistos, ainda mexe.

@Gonçalo Sá