Por força do experimentalismo e do calendário das outras bandas do vocalista Manel Cruz (que também deu voz aos Ornatos Violeta, Pluto e ao projeto a solo Foge Foge Bandido), o disco dos Supernada, pensado para 2005, só foi editado há poucos dias... mas a demora é facilmente perdoada depois da primeira audição.

O grupo, que além de Manel Cruz conta comMiguel Ramos no baixo, Ruca na guitarra, Eurico Amorim nas teclas e Francisco Fonseca na bateria, apresentou o disco no passado dia 29 de março no Lux, em Lisboa, e a adesão confirmou que a vontade de conhecer estas canções era partilhada por muitos.

Com um formato semelhante ao de Foge Foge Bandido, “Nada é possível” inclui um CD e um livro - este com fotografias, desenhos, manuscritos ou as letras das canções, uma mais-valia para que gosta de ter a música na sua versão física.

Ouvir “Nada é possível” é receber um rock sujo, musculado, com alguns riffs punk, envolvido num ambiente galático criado pelos sintetizadores, mas com um baixo carregado de groove que nos faz querer bater o pezinho.

As músicas fazem lembrar muita coisa... Há quem diga que este poderia ter sido o disco que os Ornatos Violeta nunca lançaram, tendo em conta a presença de Manuel Cruz e algumas canções com um forte traço funk - e riffs que nos fazem lembrar “Dia Mau” (do álbum “O monstro precisa de amigos”, dos Ornatos Violeta) quase que obrigam a essa comparação. Mas há outros perfumes no ar: temos cheiros a Queens of the Stone Age ou mesmo dos Radiohead, duas bandas que também não têm medo de experimentar.

Videoclip de "Arte quis ser vida":

O disco abre com “Sonho de pedra”, uma canção rock, mas com muito funk, a convidar a comparações com os Ornatos Violeta. O mesmo pode ser dito da faixa seguinte, “Animais à solta”, em que Manel Cruz surge como que a rappar por cima de um baixo musculado.
“Passar à volta” surge logo de seguida, ao lado de um desejo de experimentar - ouçam-se os riffs, as percursões e as diferentes texturas que a música vai ganhando.
“Espuma” traz, apesar da curta duração (um minuto e cinquenta segundos), excelentes arranjos de cordas, teclados psicadélicos e um sample em alemão. Podemos sentir o experimentalismo aqui e ali em todas músicas do disco, desde o uivar de Manel Cruz e o cantar de crianças, em “Anedota”, ao caos dos violinos no final de “Perigo de explosão”.
Um dos momentos altos do disco surge com “A estética da ética”, que começa com um riff a la Rage against da Machine, adotando depois várias caras e por melodias - não resistimos, entramos no jogo e também acabamos a cantar. A esta música junta-se “Arte quis ser vida”, primeiro single do disco (no videoclip tem uma versão diferente da do álbum), talvez a melhor canção do álbum - pelas guitarras, pelos sopros, pela letra e pelos imensos pormenores (uma vez mais) que a povoam.
“Mundo invisível” ainda faz parte destes momentos altos. O baixo enche-se de peso, mas é sempre melódico. A voz enche-se de reverb e preenche todos os possíveis vazios que a canção poderia ter - é talvez a música mais “respirada” do disco, em que os momentos musicais são menos frenéticos e não têm medo de terminar.

“Nada é possível” chega ao fim sem que as 16 faixas pareçam minimamente maçadoras, um excelente indicador da qualidade de qualquer álbum. Ah, já dissemos que ao vivo soa ainda melhor? Não há desculpa para não os espreitar, algures durante o ano, no palco mais próximo.

@Edson Vital