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Caetano Veloso, que dispensa apresentações, está de volta aos álbuns de originais com “Abraçaço”. O título do disco, que também dá nome a uma das canções mais melódicas, já havia sido anunciado e explicado pelo músico brasileiro em novembro. "Meu disco vai se chamar Abraçaço. Uso essa palavras às vezes para finalizar e-mails. Acho graça. É como golaço, jogaço, filmaço", escreveu Caetano no Twitter. A aliteração provocada pela repetição da cedilha não foi esquecida, tanto no nome do disco como na própria música, onde a palavra é repetida com a doçura a que a voz de Caetano já habituou os nossos ouvidos. “Abraçaço é o mais lindo porque há a repetição do cê-cedilha. Parece um eco, um reverb verbivocovisual. E sugere não só um abraço grande mas também um abraço espalhado, abrangente, múltiplo”, explicou. Mas o disco é muito mais do que “Abraçaço”. Desde logo, porque a presença da Banda Cê, trio de guitarra, baixo e bateria de jovens músicos brasileiros com os quais Caetano gravou os dois discos anteriores (“Zii e Zie” e “Cê”), é responsável pelo caráter arrojado e experimental deste novo trabalho. A sua contribuição é palpável logo na primeira canção, “A Bossa Nova é foda”, uma homenagem à bossa nova cheia de segundas leituras na letra (João Gilberto aparece como o “bruxo do Juazeiro” e Carlos Lyra como “o magno instrumento grego antigo”), mas também em “Funk Melódico”, onde Caetano faz referência ao funk do Rio de Janeiro, um estilo que sempre lhe chamou a atenção. Ao longo das 11 faixas há espaço para momentos mais melancólicos e introspetivos, como “Vinco” e “Estou triste”, ou para temas com referências políticas e sociais. Em “Império da Lei”, Caetano conta a história do assassinato a sangue-frio da missionária americana Dorothy Mae Stang, que teve lugar no estado do Pará em 2005. Em “Um Comunista”, é feita uma homenagem a Carlos Marighella, uma das caras da resistência contra a ditadura militar no Brasil. Aos 70 anos, completados em agosto, Caetano Veloso consegue surpreender mais uma vez fãs e crítica com este poético “Abraçaço”. O cronista do jornal Globo Arnaldo Bloch classifica-o como um “discaço” e nós não poderíamos estar mais de acordo. @Alice Barcellos<
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