"We brought the party/ All you got to do/ Is leave your heartache", garante Nancy Whang, ex-LCD Soundsystem e metade dos The Juan MacLean, num dos singles de "We Got a Love". O título do tema, "Do That Dance", até pode ter um sentido imperativo, mas Shit Robot não precisa de nos obrigar a nada: o produtor e DJ irlandês tem a escola toda quando o assunto é mexer o corpo e volta disparar convites irrecusáveis para o efeito.

Afinal, Marcus Lambkin, o nome por trás deste robô de nome politicamente incorreto, é há quase dez anos um dos trunfos do catálogo da DFA Records, casa de alguma da música de dança mais confiável desde a viragem do milénio. A guest list dos álbuns de Shit Robot também não engana: no primeiro, "From the Cradle to the Rave" (2010), ouvimos gente como James Murphy (LCD Soundsystem), Alexis Taylor (Hot Chip), Planningtorock ou Juan McLean; em "We Got a Love" temos Luke Jenner (The Rapture), o cantor e comediante Reggie Watts ou Lidell Townsell, referência da house de Chicago.

Videoclip de "Do That Dance":

A única voz a transitar para o novo disco é mesmo a de Nancy Whang, que já tinha protagonizado um dos melhores momentos do anterior, "Take 'Em Up", e comanda agora uma canção que lhe faz frente. Mas além da vocalista, "Do That Dance" tem a seu favor um novelo funky a convocar teclados, apitos, cowbell, baixo, guitarra ou palmas sintetizadas, ingredientes exemplarmente doseados num docinho para a pista de dança.

Mais minimalista nas texturas, embora igualmente infeccioso, "Do It (Right)" volta a lançar palavras de ordem para que ninguém fique parado ("Grab a partner/ Don't be scared" (...) I wanna know if you know how to jack your body"). Também é outra prova de que "We Got a Love" não é um álbum liricamente muito exigente, o que importará pouco quando o apelo físico nunca fica comprometido. A derivação house, a recuar até inícios dos anos 1990, é uma das novidades do disco e mantém-se em "Feels Like", com Holly Backler a fazer lembrar Robin S., do clássico "Show Me Love", antes de amenizar o ritmo. Nada que a faixa título não possa recuperar com um piano eufórico ao lado do improviso soul de Reggie Watts, prestes a incendiar uma festa sem qualquer esforço de subtileza.

Videoclip de "We Got a Love":

Ainda assim, o momento mais delirante de "We Got a Love" será "Feels Real", com a voz dos The Rapture a emular Jake Shears, dos Scissor Sisters, num pastiche descarado de Sylvester ou dos Bee Gees. O falsete histriónico não será para todos os gostos e Shit Robot é o primeiro a saber disso, mas a conversão é possível graças a um compasso suficientemente frenético para que este devaneio disco sound se agarre ao corpo. Já "Space Race" dispensa contributos vocais enquanto revisita terrenos italo disco e electro, a sublinhar a versatilidade de um álbum com acessos techno em "The Secret" (o momento mais próximo de "From the Cradle to the Rave", estrategicamente colocado no início do alinhamento) ou no mais espacial "Dingbat", comparável à faceta onírica de uns Chemical Brothers.

A diversidade de ambientes não impede, no entanto, que "We Got a Love" ainda consiga surpreender-nos no tema final, "Tempest", muito provavelmente o seu ponto alto. Instrumental expansivo, é um exemplo impecável da perícia de Shit Robot na conjugação de camadas e na progressão rítmica. Nos seus quase sete minutos (dos mais longos de um disco sem canções breves) vai do quase curto-circuito inicial a teclados celestiais, entregando-se depois a um crescendo alimentado por sintetizadores e percussão. Mais em clima after hours do que do horário nobre, é uma despedida triunfal de um álbum talvez sem estofo para as listas de melhores do ano, mas a merecer figurar, com distinção, nas melhores festas.

@Gonçalo Sá