O arranque até é bastante apetecível: a faixa homónima, não por acaso o primeiro single, é salpicada pelo mar californiano e faz-nos querer conhecer o verão de Los Angeles - e ao longo de quase três minutos, a voz de Cosentino, tão doce como as melodias, quase nos leva lá. Logo a seguir, "Why I Cry", "Last Year" e "My Life", mais dadas à temática amorosa, também escorregam bem e compõem a metade mais despachada e cristalina do disco.

Mas nem é preciso chegarmos a meio de "The Only Place" para desconfiarmos - com fundamento - que estas canções nunca nos vão levar a territórios inesperados. Mesmo que o registo midtempo surja intercalado por momentos mais dinâmicos, as faixas são pouco mais do que variações de uma matriz, ainda assim, menos óbvia em "Crazy for You". A produção de Jon Brion trouxe uma considerável operação de cosmética: o que antes ameaçava tornar-se rude, ficando-se por um noise açucarado, contrasta agora com um disco limpo, ameno, indeciso entre a alternative country e os ambientes (pouco tentadores) do rótulo adult contemporany.

A moldura elegante das canções poderia confundir-se com maturidade, não se desse o caso de as letras, sem dúvida o elo mais fraco, continuarem agarradas ao simplismo juvenil de "Crazy for You". Felizmente, Cosentino encarna bem a personagem de pobre menina indie - enfim, também parece estar a fazer dela própria - até porque a produção, mais esparsa, dá espaço à sua voz, cuja conjugação de ternura, entusiasmo e melancolia ainda nos envolve. Não faz com que "The Only Place" tenha a força de uma paixão arrebatadora, mas ajuda a dar-lhe o sabor de um agradável amor de verão.

@Gonçalo Sá