Videoclip de "Ride":

A boa impressão começa logo no primeiro single e tema de abertura do EP, "Ride", canção majestosa na linha do melhor de Lana Del Rey que alia o desejo de evasão a uma nova viagem pelo imaginário norte-americano, com doses equilibradas de glamour (de tom nostálgico, quase cinematográfico) e decadência ("I'm tired of feeling like I'm fuckin' crazy/ I'm tired of driving 'till I see stars in my eyes"). Bem secundada por Rick Rubin (na produção) e Justin Parker (que também ajudou na composição de "Video Games"), Lana impõe-se como uma atriz principal que merece, aqui, todos os holofotes a que tiver direito.

Se o alinhamento não serve outro momento ao nível de "Ride", não será por falta de tentativas, sobretudo numa primeira metade especialmente suculenta em vitaminas de pop bem confecionada. "American" e "Cola", outras canções "on the road", fazem viragens entre percursos inocentes e sinuosos, dando voz a uma Lolita lânguida, mais desbocada do que as personas do álbum ("My pussy tastes like Pepsi-Cola") mas igualmente inseparável de referências de terras do Tio Sam. Tal como "Born to Die", "Paradise" está forrado com uma iconografia que passa por motéis à beira da estrada, trailer parks deprimentes, esquinas pouco recomendáveis para meninas de família e estradas sem fim à vista - percorridas, de preferência, ao lado de motards cinquentões que intimidem qualquer sinal de ameaça.

Videoclip de "Bel Air":

As narrativas de canções declaradamente "made in USA" aludem, além destes espaços, a nomes-chave da música (Bruce Springsteen, Elvis Presley ou Jim Morrison), do cinema (Marilyn Monroe) ou da literatura (Walt Whitman), referências regulares que não desenham (longe disso, até) um retrato especialmente patriótico - por muito que Lana garanta, em "Cola", dormir enrolada numa bandeira norte-americana. Temas desencantados como "Gods & Monsters" explicam porquê e outros, em especial a versão do clássico "Blue Velvet", mantêm a ligação à elegância noir, muito anos 50, que já é parte da imagem de marca da cantora (e que a ajudou a ter fãs como David Lynch, registando nesta canção a maior aproximação ao universo do realizador).

Essa versão, mais reverente do que transgressora, assinala a passagem para a segunda metade de "Paradise", não tão dinâmica e imediata como a primeira mas com uma serenidade a que nos afeiçoamos - seja nos sussurros de "Yayo", com uma libido que Lana nem tenta disfarçar, ou na bela despedida de "Bel Air", balada com um encanto que dá bom nome ao género. Em momentos como esses, chegamos a acreditar que o paraíso existe e, durante três ou quatro minutos, até conseguimos ter alguns vislumbres do que nos reserva. Não se pode pedir muito mais a uma canção pop...

@Gonçalo Sá