Dá-se por Duquesa mas canta sobre a simplicidade do dia-a-dia e sobre a monotonia que lhe pode estar associada. Começou por esculpir dois álbuns a oito mãos, enquanto membro dos The Glockenwise, agora coloca mais "as mãos na massa”, no seu projeto a solo.

Tudo começou ao escrever canções e a tocá-las em casa, com algumas delas a não se encaixarem no espírito do quarteto, revela-nos Nuno Rodrigues, ao telefone: “Foram-me aparecendo algumas canções que não se encaixavam tão bem e, de repente, percebi que era sistemático”. "Quando dei por ela, o Duquesa já existia, não foi propriamente uma coisa planeada detalhadamente”, explica-nos.

Chama a si o título da realeza, “em primeiro, por puro interesse histórico" - todos os seus familiares estudaram História. É um bichinho que tenho”, diz-nos.“Isso, associado também à imprensa cor-de-rosa, àquelas intrigas todas palacianas que nos remetem para títulos desse género". Também a lembrança do universo feminino da nobreza o levou a adotar o nome, que considera gratificante e interessante, com capacidade de despertar o interesse do público: “De certa forma, refletia a minha natureza andrógena e o ato feminino das músicas e do próprio projeto”.

O universo leve interpretado pelo músico retrata as suas vivências e o seu dia-a-dia. "Será, talvez, a coisa mais pessoal que já fiz. Não tenho uma experiência de vida muito esotérica, por isso não posso falar de coisas mais interessantes do que aquelas que são totalmente quotidianas, que eu vivo”, conta-nos. Times, em que Nuno Rodrigues canta" I’m happy if you’re happy", Ice Cream ou Douchebag são alguns dos exemplos. “Como eu acredito que as coisas devem ser tratadas com o máximo de honestidade, pareceu-me muito mais apropriado falar das coisas que eu vivo e que me estão próximas, e ver as pessoas sentirem essa honestidade na música que faço, do que estar a inventar experiências, porque isso acabaria por ser uma futilidade”, esclarece. A aparente superficialidade dos temas resulta, segundo Nuno Rodrigues, em algo com "muito mais interesse" ou "mais filosófico".

Dadas as imagens do quotidiano que são passadas nos temas, há um bom número de pessoas a identificar-se e a elogiar o trabalho a solo de Nuno Rodrigues. Mesmo que, na opinião do artista, nunca ninguém seja 100% honesto sobre o seu trabalho, tem-se sentido surpreendido “pela maneira como as pessoas se identificaram tão rapidamente”. "Ou então eu é que fui inocente e achei que não iria ser assim, porque, realmente, as pessoas gostam sempre dos heróis do dia-a-dia, gostam daquela ideia de ter alguém a falar exactamente das coisas que elas vivem e não das coisas impossíveis que nunca viveram”, confessa.

Há reações e confissões que o marcaram. “Não são assim tantas, mas algumas pessoas confessaram-me que gostavam muito de namorar a ouvir o disco e isso é uma maior conquista do que vender, ou não, o disco, ou do que dar muitos, ou poucos, concertos”. "Haver alguém que ouve a minha música na maior das intimidades... Ser uma presença anónima na vida, nas coisas mais bonitas e mais íntimas das outras pessoas... Isso é espectacular”, conclui.

Há, obviamente, contrastes entre gravar como The Glockenwise e como Duquesa, onde a decisão sobre as músicas a serem escolhidas recai unicamente sobre Nuno. Com os The Glockenwise, as canções são feitas e escolhidas, quase na totalidade, nos ensaios, enquanto que, como Duquesa, as músicas estão completamente pensadas mas ainda vão ser trabalhadas em estúdio. Ao contrário do que faz com o grupo, Nuno Rodrigues recusa-se a ensaiar antes de ir para o estúdio, para não existirem outras influências exteriores, apesar destas estarem, no fundo, sempre presentes. A solo tem mais "as mãos na massa". “Com os The Glockenwise é uma escultura de oito mãos”.

Apesar das diferenças que sente no processo de construção musical a solo, Nuno acaba por retirar satisfação pessoal em qualquer um deles. “É uma relação diferente com a criatividade. Tem benefícios e malefícios, porque os defeitos que tiverem à vista são todos meus".

Não há planos completamente traçados e desenhados para este Duquesa. Dependem da agenda pessoal do cantor. "Depende muito se estou a escrever mais, menos canções, se estou com menos trabalho ou mais trabalho”, afirma Nuno com descontração, acrescentando: “Posso lançar dois discos no próximo ano ou posso lançar dois discos nos próximos quarenta anos”. Estando num grupo musical, existem metas, objetivos e datas que necessitam de ser cumpridas, mas no universo de Duquesa existe unicamente a satisfação pessoal como motor de força para prosseguir o caminho.

David Pimenta

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