São divertidos, sorridentes, espontâneos e esbanjam graciosidade, dentro e fora dos palcos. Os portugueses já quase não conseguem viver sem eles, sem as suas alegres histórias, sem as suas refinadas crónicas, sem as encantadoras personagens que criam e recriam"¦ Cada concerto é mais uma oportunidade de convívio, de diversão, enfim, de pura festa - uma festa que o
Palco Principal não podia, simplesmente, perder! Assim, no passado dia 27 de Novembro, dirigiu-se à FNAC do Norte Shopping, e, após uma calorosa exibição musical, pôs-se à conversa com Ana Bacalhau, Pedro Martins, José Leitão e Luís Martins, os quatro músicos que, há cerca de dois anos, deram vida à mais simpática e amorosa alcoviteira de Portugal"¦ a nossa querida

Deolinda!

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Palco Principal - Os utilizadores do Palco já conhecem, com certeza, a história do vosso projecto. Ignoram, contudo, a origem do nome Deolinda"¦ Porquê Deolinda e não Conceição, Maria ou, quem sabe, Odete?

Deolinda - A verdade é que, inicialmente, a
Deolinda teve outro nome"¦ Por sugestão do Luís, a
Deolinda foi, durante cerca de 30 segundos, Ivone, mas tal sugestão acabou por não colher grandes frutos, nem mesmo do próprio Luís! Até que o Zé, com a bagagem intelectual a que já nos habituou, se lembrou do nome
Deolinda, que, desde logo, nos pareceu absolutamente brilhante! Nem foram precisos grandes argumentos"¦ Uma vez pronunciado, soou logo bem!

Palco Principal - Por motivos óbvios, são muitos os fãs que confundem a Deolinda - essa personagem que criaram - com a própria Ana Bacalhau, vocalista do grupo. Aqui entre nós, existem ou não parecenças entre as duas?

Ana Bacalhau - Bem, solteira já não sou"¦ Também não sou casada com desamores"¦ Mas tenho um gato! Logo, vou ter que responder afirmativamente a essa questão. Mas as semelhanças não ficam por aí: a
Deolinda é uma mulher alegre, forte, observadora e, apesar de gostar de espreitar a vida das outras pessoas para, posteriormente, expô-las nas suas músicas, também gosta, de vez em quando, de olhar um bocadinho para dentro de si. Na minha opinião, são essas as características da
Deolinda com as quais me posso identificar mais.

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Palco Principal - Ma
is um «porquê», desta feita, relativamente ao título do primeiro - e, até ao momento, único - álbum da Deolinda"¦ Porquê "Canção ao Lado"?

Deolinda - Além de "Canção ao lado" ser o título de uma das canções que compõe o álbum - e, por isso, ter toda a legitimidade para intitular o disco -, escolhemos esse nome porque, na realidade, estávamos com alguma dificuldade em definir o estilo musical da
Deolinda. É que ela evoca sonoridades tão distintas como o fado, a música popular, o folclore, o rock, etc., mas, no fundo, não se baseia em nenhuma delas em particular. Na verdade, está um pouco "ao lado" de cada uma delas"¦ Perante tal evidência, surgiu a ideia de "Canção ao Lado", que foi imediatamente aceite por unanimidade. Afinal, caracterizava o registo na perfeição!

Palco Principal - Na origem da Deolinda estão dois irmãos, uma prima, um casal"¦ Que tal é trabalhar em família?

Deolinda - É bom! Pelo menos até agora, não há razões de queixa. Aliás, só vemos vantagens"¦ Por vezes, em jeito de brincadeira, até dizemos que somos um segundo clã da música portuguesa, sendo que o primeiro é constituído pelos próprios Clã. Bem, na verdade, se contarmos com o Trio Odemira - que também tem laços familiares - não somos o segundo, mas sim o terceiro clã da música portuguesa!

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Palco P
rincipal - Ao longo de to
das as músicas que compõem o álbum, denota-se uma cer
ta ironi
a, uma leve sátira a alguns dos costumes mais típicos da população portuguesa. Confessem: qual desses hábitos «incomoda» mais a Deolinda?

Ana Bacalhau - Definitivamente, o «escarra para o lado» [risos, muitos risos]. É esse o que me irrita mais, o que me faz mais confusão.

Palco Principal - Essa eleição é comum a todos?

Deo
linda - Talvez. Na realidade, existe toda uma crítica, no entanto, existe, simultaneamente, uma certa admiração por esses costumes que satirizamos. Isto é, não pretendemos com as nossas músicas julgar ou reprovar, pois - verdade seja dita - todos temos uma espécie de carinho por estas tradições, por estes hábitos com os quais temos contacto diário. São hábitos que, de certa forma, nos caracterizam. Aliás, são hábitos que, de tão rotineiros que são, já «passam ao lado» do português comum"¦ Só mesmo à
Deolinda é que não! Ela não deixa escapar mesmo nada"¦

Palco Principal - Hábitos e costumes à
parte, de todas as personagens que tiveram oportunidade de criar, qual vos é mais querida?

Deolinda - A
Deolinda é, sem dúvida, a mais querida. Afinal, de todas as personagens que criámos, é ela a mais importante, a mais central. Agora,
Deolinda à parte"¦

Ana Bacalhau - Eu tenho um afecto especial por todas, mas a Garçonete da Casa do Fado ainda hoje me faz rir. Não obstante, todos os dias vamos descobrindo novas personagens - personagens escondidas nos meandros das canções -, que também nos agradam bastante, tais como a louca, o electricista, a vizinha, o canalizador, a varina, o jogador de futebol, etc.

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Palco Principal - Quando iniciaram este project
o, esperavam todo este sucesso e visibilidade, toda esta empat
ia que, entretanto, conquistaram?

Deolinda - Não, de todo"¦ Sempre tivemos consciência que este era um projecto bastante ambicioso, sustentado por grandes ideias, porém, foi um projecto criado com o intuito de nos divertirmos, com o intuito de experimentarmos novos ambientes. A verdade é que nunca imaginámos ser levados tão a sério"¦ Mas, de repente, a
Deolinda começou a crescer e, à volta dela, formou-se uma enorme energia, que não pudemos desperdiçar. Muito pelo contrário: investimos nela, trabalhamo-la, tentando, a todo o momento, não cometer os mesmos erros que tínhamos cometido com outras bandas que já integrámos. E não podia ter corrido melhor. Foi óptimo!

Palco Principal - À semelhança dos vossos admiradores, sentem que a Deolinda veio reavivar o vínculo existente entre a música popular portuguesa e o público mais jovem?

Deolinda - De facto, torna-se impossível não constatarmos tal coisa, principalmente quando nos deparamos com um público como o desta noite, tão jovem, tão vivo, tão animado. É, sem dúvida uma alegria para a
Deolinda poder ver tantas pessoas a divertirem-se em português, com uma ou outra história, com esta ou com aquela personagem, a cantar estas histórias connosco - algo, por norma, raro no panorama nacional. Esperamos que este espírito se alastre a mais bandas e, também, a mais público. Seria uma felicidade!

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Palco Principal - Uma rápida pesquisa na Internet permite, de imediato, concluir que não faltam fãs da Deolinda a viajar pelo mundo virtual, sendo que alguns deles partilham uma vontade, no mínimo,

estranha: propor a música Movimento Perpétuo Associativo a hino nacional. Nas suas opiniões, não há canção
que melhor traduza o típico indivíduo português. Como reage a Deolinda a tal sugestão?

Deolinda - Achamos piada e esperamos que, de facto, não passe disso mesmo: uma simples piada, pois, numa óptica mais séria, consideramos tal ideia totalmente despropositada. Aliás, não só despropositada como assustadora, porque o facto de tanta gente se rever na música em questão, é um péssimo sinal. Isto é, não é propriamente um motivo de orgulho nacional esta nossa mentalidade «vão sem mim que vou lá ter»"¦ Mas, pelos vistos, está na moda - viemos a saber. É que os estrangeiros com os quais temos tido contacto dizem que nos seus países existe esta mesma atitude, esta mesma disposição! E nós a pensar que era uma «coisa» só nossa"¦ De qualquer das maneiras, deixemos as coisas como estão: o
Movimento Perpétuo Associativo como hino da
Deolinda e não como hino de Portugal!

Palco Principal - Em dois anos d
e carreira, já passaram por alguns dos mais prestigiados palcos do país. Que concertos recordam co
m mais saudade?

Deolinda - Bem, o de hoje foi fantástico! O público foi absolutamente extraordinário! Mas os da Aula Magna, do Teatro Aveirense, os festivais - nomeadamente o Sudoeste - foram igualmente incríveis, com uma adesão do público muito boa. Aliás, um concerto da
Deolinda que não tenha adesão do público, não é um concerto da
Deolinda"¦ É um concerto da Ivone! [risos]

Palco Principal - E que casas de espectáculo faltam no vosso currículo, nas quais gostariam de vir a actuar?

Deolinda - A casa da música, sem dúvida, se bem que, a partir de Fevereiro passará a integrar o leque dos concertos que, com certeza, recordaremos com mais saudade, uma vez que iremos actuar lá no próximo dia 25 de Janeiro. E, como não poderia deixar de ser, os Coliseus.

Palco Principal - Qual foi a importância das redes soc
iais, nomeadamente do Palco Principal, para o crescimento da Deolinda enquanto projecto?

Deolinda - Foram ferramentas muito importantes, imprescindíveis até, na medida em que proporcionaram a divulgação das nossas músicas - na altura, meras maquetas caseiras, muito mal gravadas -, nos abriram as portas para inúmeros concertos, que, mais tarde nos permitiram escolher uma editora e, claro, gravar o álbum. Nesses aspectos, as redes sociais e, nomeadamente, o Palco Principal são ferramentas incríveis, extremamente contemporâneas, rápidas, informativas e interaccionais, enfim, autênticas mais-valias para quem, como nós, quer iniciar uma carreira no mundo da música.

Palco Principal - Atribuem, então, muito do sucesso obtido a este tipo de ferramentas.

Deolinda - Sim, principalmente numa fase inicial.

Palco Principal - Por fim, o que reserva à Deolinda 2009? Um novo álbum? Uma digressão além fronteiras?

Deolinda - Um novo álbum, definitivamente, não! Penso que a segunda opção estará mais correcta: uma
tour além fronteiras, até porque, já no início do ano, o disco vai ser editado na Europa e nos Estados Unidos. Assim sendo, em 2009, a
Deolinda vai pegar nas suas malinhas, deixar os gatos com a amiga Ivone [risos] e alargar os seus horizontes, descobrir novas coisas sobre as quais cantar, outros «toninhos», quem sabe"¦

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Texto por: Sara Novais

Fotografias por: Miguel Pereira

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