A abrir o palco principal estiveram os Expensive Soul, portuenses de gema – também eles presença assídua nos palcos deste distrito e com um (especialíssimo) concerto na Casa da Música, decorrido em Janeiro, ainda fresco q.b. na memória de muitos.
Novidade não foi, portanto, a palavra de ordem desta sexta-feira 15, no Cabedelo. O que não significa que eficácia não tenha sido. Todos os projetos que pisaram o palco principal deste certame à beira rio plantado fizeram jus às expectativas dos 20 mil festivaleiros presentes, com atuações convincentes, empáticas, vigorosas.
2011 está, sem dúvida alguma, a ser o ano dos Expensive Soul. São concertos esgotados, são festivais atrás de festivais, Globos de Ouro até! A dupla maravilha de Leça da Palmeira, “a terra mais bonita de Portugal”, está imparável e que o comprovem as milhares de pessoas que esperavam, bem encostadinhas ao palco, o duo sensação do momento.
Não só de música vive um concerto dos Expensive Soul. Os apelos, as confidências e os flirts com o público são mais que muitos e surgem oleados as can be entre e durante canções. Não há lugar para pausas na atuação destes rapazes. O mais moreno e ousado dos dois não o permite, com “Tá-se bem Gaiaaaaa”, “Vocês estão a arrebentar com isto tudo”, “São o melhor público de sempre”, “Quero ouvir essas palmas”, “Esses braços no ar, gente”, “Onde estão as meninas bonitas???”, entre tantos outros clichés de palco, a saírem-lhe, em modo repeat, das entranhas. O público, claro, fica pelo beicinho e esmera-se tanto o quanto a sua voz e memória lhe permitem quando chega a altura de entoar, a alto e bom som, êxitos como O Amor é Mágico, Dou-te Nada, 13 Mulheres, Eu não Sei ou Falas disso, que encerrou um alinhamento certeiro, sem direito a encore. Os dados estavam lançados.
Escassos minutos depois – a pontualidade esteve em alta neste segundo dia de festividades – surge em palco Skin e companhia. A vestimenta da vocalista – preta, cravejada de brilhantes, e adornada com umas pseudo-asas douradas, cintilantes até mais não – e o tema com que inicia a sua performance – Yes, It’s Fucking Political – fazem-nos antecipar uma performance em tudo semelhante à apresentada perante um Coliseu do Porto lotado, há alguns meses atrás. Charlie Big Potato, Because of You e God Loves Only You, logo de seguida, levam-nos a confirmar o óbvio: a digressão de promoção a “Wonderlustre” continua na estrada, igual a si mesma.
Em modo dejavu, assistimos às furiosas danças de Skin em cima do palco, ouvimos atentamente as mensagens provocadoras disparadas para aqueles que balizam a liberdade alheia, deixamo-nos dominar pela postura magnética que só ela empresta a cada canção, e rejubilamo-nos com as suas incursões contínuas fora do palco, diretamente para os braços dos fãs mais atléticos, incrédulos com tamanha bravura e agilidade. E o cenário mantém-se inalterável (exceção para as irresistíveis Secretly e Hedonism) até às últimas guitarradas, debitadas já perto da 01h00.
Ainda muitos corriam para a casa de banho – a cerveja não da tréguas – e desesperavam nas filas das mais variadas paragens gastronómicas (a fome também não), quando Moby tomou o palco principal de assalto, de guitarra em punho. In My Heart, do álbum “18” (2002), abriu as hostilidades perante uma assistência ainda acanhada, expectante. Seguiu-se Go, a primeira obra-prima do artista, como sempre faz questão de lembrar. Como senós não soubéssemos…
Poucos músicos conseguem abordar, num só espetáculo, registos tão diferentes como Moby. E ele fá-lo na perfeição, não fosse dono de uma das discografias mais díspares que a história da música já conheceu. Temas como Natural Blues ou Porcelain cruzam-se com as batidas frenéticas de Disco Lies, Lift Me Up ou Feeling So Real, com o qual encerra cada atuação que protagoniza. E esta não foi, claramente, exceção. Por que seria?
Durante uma performance marcada por um Moby menos extrovertido do que aquele que conhecemos há dois anos, mas mais raver que nunca – os exemplares techno mereceram um destaque incomparavelmente maior do que em 2009 -, houve ainda tempo para a possante Bodyrock (um dos muitos sucessos do álbum que catapultou Moby para o estrelato internacional, “Play”), para a contagiante Honey (dançada como se não houvesse amanhã por pequenos e graúdos), All Made of Stars (numa versão sóbria, sem sal) e para os habituais “Thank You, thank you, thank you” (em modo Duffy Duck). Quem lhe consegue resistir?
Já em encore, dedilhou, de forma magistral, Whole Lotta Love, popularizada pelos Led Zepplin. Já conhecíamos a cover de Moby para este tema, mas podemos jurar a pés juntos que nunca a tínhamos ouvido tão imponente, com a voz de Joy Malcolm, seu porto seguro,a roçar a perfeição. Será que este senhor nunca desilude?
Em noite de saudosismos, passaram pelo palco secundário do evento Mendes e João Só, que surpreenderam com uma versão de Vocês Sabem Lá, e os Classificados, que brilharam perante uma multidão deliciada com os hits Ela, Mudar a Minha Sorte (tema de revolta, dedicado aos “dirigentes deste país”) e Com Medo de Voar.
Texto: Sara Novais
Fotografias: Cláudia Moura e Ana Oliveira
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