“Granito: o rap do Porto” surgiu de um desafio da empresa municipal Ágora, responsável pelo Cultura em Expansão, programa anual de promoção cultural e artística, a André Neves, também conhecido como Maze, um dos cinco elementos do coletivo portuense de rap Dealema.

O desafio, contou Maze à Lusa, era “fazer um espetáculo que tivesse o ADN do rap do Porto”. Inicialmente a ideia passava por contar um pouco a história do rap feito na ‘Invicta’, mas isso “era uma empreitada complicada de fazer, até porque muitos artistas já nem estão a fazer música”.

O conceito “foi-se transformando” e André Neves teve “carta branca” para escolher artistas que achasse “que representavam o Porto de forma diferente, no rap do Porto, que representassem a cidade e essa identidade da ‘Invicta’”.

André Neves acredita que “o rap é sempre condicionado pela geografia”.

“Aliás, a música é sempre condicionada pela geografia. Os sítios e as pessoas transformam completamente a identidade da música. No caso do Porto, a identidade do portuense é muito marcada. É uma coisa muito vincada e muito própria, e é inevitável que transborde para a música, e para o rap”.

A definição dessa identidade começou com a primeira geração: “Mind Da Gap, Reunião das Raças, Fullashit, Fator X e Dealema logo a seguir”.

Mas depois, esse filão de bandas que teve continuidade a partir daí foi também definindo quais eram as margens desse rap do Porto, que "é muito diferente do que é feito noutros sítios do país”, afirmou.

Quando questionado sobre o que diferencia o rap que se faz no Porto daquele que é feito noutras cidades, André Neves responde que “tem uma identidade muito própria, um calão muito próprio, uma postura muito única”.

“Os temas abordados são muito específicos, a forma como são abordados também. O próprio ambiente das músicas tem muito que ver com a cidade. Há assim um cinzento e uma densidade e um peso na abordagem à música que diz muito do que é que o portuense é”, argumentou.

Esse cinzento de que fala Maze vem do nevoeiro, da chuva, nas nuvens, mas também do granito, que dá nome ao espetáculo.

“É também o cinza cá em baixo, na terra. Não é só o cinza do céu. Esse cinzento e essa dureza, que também nos caracteriza, às vezes no trato e na forma de ser, mais brusca, mais dura, mas com muito afeto e com muita emoção atrás, a suportar isso”, disse.

O espetáculo, de entrada livre (mediante levantamento de bilhete - até dois por pessoa - no local e dia do espetáculo, a partir das 20h30 de sábado), acontece às 21h30 na associação da Pasteleira e conta com Barrako 27, Berna, Dealema e Keso.

Como o espetáculo dura cerca de uma hora - o que não permite "montar um espetáculo com interação e transições, por haver estruturas de palco muito diferentes, o que exigiria um tempo entre atuações” -, decidiu-se “fazer um compacto de cada um”.

“Como a curadoria está a meu cargo", contou, "responsabilizei-me eu por fazer as transições. Então vou estar muito presente nas transições entre cada projeto a tocar músicas que são colaborações minhas com os artistas presentes, e algumas delas nunca foram tocadas ao vivo”.

O alinhamento inclui “músicas bem antigas, quase do início de carreira, e outras mais recentes”, “mas todas elas contam uma história sobre o artista e sobre a cidade”.

André Neves gostava de ter envolvido mais pessoas no espetáculo e salienta que teria sido “muito importante ter uma mulher no cartaz”.

“Tive muita pena que não tenha acontecido, mas é uma lacuna que espero que, caso aconteça uma nova edição, fique preenchida. Porque faz falta ao rap do Porto ter também uma voz feminina a marcar presença”, disse.

Nas conversas com a Ágora ficou a ideia de “Granito” ser um espetáculo “que poderá acontecer mais regularmente”, para continuar a “contar a uma geração mais nova as suas raízes e o que é que foi acontecendo” ao longo dos anos no rap feito no Porto.

O espetáculo “Granito” está integrado na Romaria de Encerramento do Cultura em Expansão, que inclui mais três espetáculos no sábado: a peça de teatro “Famílias”, no auditório do Grupo Musical de Miragaia, às 11h00, concerto dos Gala Drop, na Associação de Moradores da Bouça, às 17h00, e o quase monólogo “Morrer no Teatro”, na Associação Nun’Álvares de Campanhã, às 17h30.