Desde que vieram dar à costa do mainstream há sete anos, nenhum artigo escrito sobre os Greta Van Fleet deixou de incluir as palavras “Led” e “Zeppelin” – a ponto de o próprio Robert Plant ter vindo a público reconhecer positivamente a legitimidade dos seus indisfarçáveis herdeiros.
Por isso, mais vale arrumar o assunto logo ao início – sem entrar em pormenores sobre a validade do derivativo: se “Safari Song”, a primeira canção da sua estreia (o EP “Black Smoke Rising”, de 2017), poderia parecer-se com uns dez temas aleatórios da esquadra Page/Plant, a verdade é que a banda evoluiu muito.
A prova veio logo no arranque do concerto em Lisboa: depois da queda de uma gigantesca cortina com o símbolo do grupo que escondia o palco (uma “orquestração” encarregava-se de uma variação de “Fate of the Faithful”), os Greta Van Fleet entraram em cena com a sensacional “Falling the Sky” – um dos temas mais belos, inesperados e inebriantes de “Starcatcher” –, cujo nome muito apropriado faz imaginar uma queda visceral rumo ao abismo.
A partir daí seguiu a jornada de teletransporte dos “vintage” que até pode remeter aos Yes (“The Indigo Streak”) ou chamar os acordes de “Norwegian Wood” para a abertura da acústica “Meeting the Master”. Enquanto uma organização de parafernália visual bastante acima da média explora a sincronia de luzes com paragens abruptas, as sequências musicais evocam muito mais o rock contemplativo pós-1967 (há um solo de bateria e longas sessões instrumentais que remetem as viagens das irmandades lisérgicas do final dos 60s) do que violentas incursões pela visceralidade – ainda que esta se encontre em “Highway Tune”, das primeiras que a banda gravou e até hoje uma das mais populares. E se o virtuosismo faz parte da ementa, a Jake é especialmente permitida uma livre exuberância em relação aos álbuns – enquanto Wagner opera o referido solo e Sam toca Gershwin ao piano.
De resto, predominaram canções do muito cadenciado “The Battle at Garden’s Gate”, entre as quais a bela “Broken Bells”, que culmina num momento acústico, e, claro, de “Starcatcher”, que trouxe, entre outras, a épica faixa de abertura (a atrás mencionada “Fate of the Faithful”), encontrando um glorioso ápice na fabulosa “The Archer” – uma viagem para uma fantasia de arcos e flechas e uma imaginária “Sara” de cabelos esvoaçantes na paisagem.
Num mundo superpovoado de artistas que espreitam nos “pubs” de cada esquina, coube aos Greta Van Fleet a sorte de chegar às tabelas e carregar a tocha, assegurando que o rock’n’roll, pelo menos no que se refere à música (política e “atitude” pertencem a outras eras geológicas) continuará vivo.
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