
O aniversário do concerto decorrido a 19 de julho de 1988, na então Berlim Oriental, motivou um novo livro, um documentário, entrevistas e uma ampla cobertura mediática para relembrar uma noite invulgar.
A apresentação do "Boss", com uma mensagem sobre o "fim de todas as barreiras", alimenta a teoria de que Springsteen abriu um pequeno buraco no Muro de Berlim.
"Crer que o espetáculo épico de Springsteen contribuiu para o movimento que provocou a queda do Muro depende, em certa medida, da crença ou descrença no poder do rock and roll", escreveu o jornalista norte-americano radicado em Berlim Erik Kirschbaum, no seu livro "Rocking the Wall: The Berlin Concert That Changed the World" ("Sacudindo o Muro: o concerto de Berlim que mudou o mundo").
Um novo documentário feito para a televisão pública alemã MDR, "My Summer '88" ("O meu verão de 88"), descreve uma espécie de corrida bélica na música pop da época, em que o Oriente e o Ocidente se enfrentavam, enquanto a Glasnost - a abertura do sistema político russo - trazia ventos de mudança.
Para tentar acalmar uma geração insatisfeita, os comunistas convocaram Springsteen, Depeche Mode, Joe Cocker e James Brown, ao perceberem que os artistas locais não eram capazes de competir com as estrelas mundiais.
Mas, para que The Boss, o filho favorito de Nova Jérsia e herói da classe operária, fosse aceite pela velha guarda comunista, os organizadores chamaram o seu espetáculo de "Concerto Solidário pela Nicarágua". Embora o nome quase tenha feito Springsteen cancelar a atuação, os bilhetes tinham o lema impresso.
Os milhares de fãs que não tiveram a sorte de conseguir entradas reuniram-se horas antes do espetáculo e atacaram as cercas de segurança, numa atitude de desafio sem precedentes.
"Com a esperança de que um dia todas as barreiras sejam derrubadas"
Springsteen começou o concerto com muitos dos seus temas mais populares antes de dar à multidão o maior deles, o clássico "Born in the USA". Para sua surpresa, o público cantava com ele enquanto agitava bandeiras dos Estados Unidos.
Depois de uma hora de espetáculo, o cantor surpreendeu ao falar em alemão: "É genial estar em Berlim Oriental", disse, numa transcrição fonética de uma tradução que seu o motorista lhe tinha dado.
"Não sou a favor ou contra nenhum governo. Vim aqui para tocar rock'n'roll para vocês, com a esperança de que um dia todas as barreiras sejam derrubadas", disse, antes de cantar o tema de Bob Dylan "Chimes of Freedom".
Apesar do forte sotaque americano, a multidão conseguiu entender as palavras de Springsteen. "Todos sabiam exatamente do que ele estava a falar: derrubar o Muro. Foi algo que alguns de nós esperámos a vida toda para ouvir", contou Joerg Beneke, um empresário agrícola da Alemanha Oriental que estava lá naquela noite, ao escritor Kirschbaum.
Menos de 16 meses depois, o Muro de Berlim, construído em 1961, ruiu depois de uma revolução sem derramamento de sangue.
Springsteen disse recentemente em Leipzig, na antiga Alemanha Oriental, que a multidão de Berlim Oriental em 1988 foi a maior já vista por si num concerto.
Os realizadores do documentário "My Summer '88", Carsten Fiebeler e Daniel Remsperger, encontraram Heike Bernhard, a mulher que subiu no palco na noite do espetáculo para dançar "Dancing in the Dark" com Springsteen.
Bernhard, que trabalha como consultora de gestão, disse que nunca mais lavou a t-shirt que usou naquela noite.
@AFP
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