O grupo portuense lançou o último álbum de originais, "Recados", em 1983, e volta aos palcos com dois concertos agendados para 24 e 31 de maio nos coliseus do Porto e Lisboa, respetivamente.

A banda encontra-se em ensaios num estúdio que reaproveitou as instalações do "Uptown", um antigo clube noturno do Porto, e, em declarações à Lusa, o regresso dos Jafumega foi equipado a "um cometa FMI". "É preciso não esquecer que somos uma banda FMI: quando ele aparece nós estamos aqui, pelo menos para dizer que discordamos", brincou o baterista Álvaro Marques, engenheiro eletrotécnico, na entrevista em grupo à agência Lusa.

Álvaro Marques é mesmo o único membro da banda que enveredou por uma carreira distante dos palcos, já que tanto José Nogueira, saxofonista e teclista, Pedro Barreiros, baixista, Luís Portugal, na voz, e Mário Barreiros, guitarrista, baterista e produtor, fazem da música o seu principal ganha-pão.

O regresso aos palcos faz-se tanto pela pressão das várias gerações de fãs, como pela ânsia de voltar a tocar por prazer - Mário Barreiros tinha "umas saudades incríveis" de tocar as músicas dos Jafumega - e José Nogueira admite que a banda acabou por "ceder, ao fim de muitos anos e de pedidos de várias famílias".

Nos 30 anos que dedicaram a outras lides, muito mudou no panorama musical e social português e dos poucos pontos em comum entre o período em que deixaram de tocar juntos e agora que voltam aos palcos, para além da sombra do FMI, é a "quantidade enorme de belíssimos músicos em Portugal", segundo o teclista José Nogueira. "Não tínhamos praticamente nada naquela altura. Nós, e grande parte dos grupos do ‘boom' do rock português daquela altura, é que inventámos esta indústria", considerou o teclista e saxofonista do grupo.

José Nogueira recorda que nem "os agentes, os técnicos de som e de luz, as empresas de aluguer de equipamento, as organizações de espetáculos e de eventos" existiam e que "foi esse ‘boom' do rock português dos anos 80 que deu o grande impulso a essas estruturas".

Para o baixista Pedro Barreiros, houve, desde a última vez que tocou com a banda, "duas componentes muito importantes [que mudaram]: o euro e a internet." “Em termos de fomento da atividade e de divulgação, as salas perderam um pouco da sua importância, também por causa da internet, em que há cada vez mais veículos de divulgação artística e em que qualquer pessoa tem acesso à informação”, disse à Lusa o músico que nas últimas três décadas se dedicou ao jazz.

O vocalista dos Jafumega, Luís Portugal, completa a ideia do colega, ao referir que "outro grande problema é o das salas de espetáculo: hoje em dia são muito mais - praticamente todas as capitais de distrito têm boas salas - mas muitas delas são como Ferraris em que, depois, não há combustível para os alimentar - muitas têm uma precária programação e depois são encerradas".

Após a experiência meteórica do tal "cometa FMI", José Nogueira prosseguiu com a carreira de jazz que trazia já de 1975, sobretudo com o pianista António Pinho Vargas que, em declarações à Lusa, considerou que "os Jafumega, como banda e como música, envelheceram relativamente bem".

Para os concertos de 24 e 31 de maio, o músico espera que o público sinta o "prazer" que a banda ainda sente em estar em palco e que possa "recordar músicas ou até descobri-las, a gente mais nova."

Quanto à possibilidade de um novo álbum, José Nogueira é sucinto: "Não estamos a pensar nisso. Mas nunca se sabe", disse à Lusa.

@Lusa