Foi preciso um convite da EMI para alavancar uma parceria que, em tempos, pareceu óbvia, mas que se perdeu no tempo.
Gravado em segredo, para não se confundir com os concertos de comemoração de 35 anos do Trovante, nasceu o álbum, "Luís Represas e João Gil", com treze temas.
“Se nós de repente divulgássemos que íamos fazer este disco as pessoas iam confundir tudo. Começavam a pensar: mas isto é um disco do Trovante? Para separar as águas e para cada um dos projetos ficar no seu canto, saudável e bem, decidimos não dizer nada”, conta Represas.
O segredo permitiu-lhes também trabalhar tranquilamente neste projeto que, como os próprios dizem, foi gravado de calção e chinelas. Para os músicos a bagagem que trazem do Trovante, bem como de outros projetos, traz-lhes calma mas também grande responsabilidade.
“Nós estamos resolvidos. Estamos numa fase de vida fantástica e este disco aparece nesse momento. Não deixa de haver aquela tensão de serem originais e de ser um trabalho novo que se arrisca sempre ao escrutínio e à avaliação das pessoas. Nada é garantido, ou seja, ou as canções estão lá ou não estão”, afirma Gil.
Os anos tornaram mais fácil aprender a lidar com a crítica, mas, como os músicos referem, esta tem um espaço próprio que deve ser respeitado porque “a opinião é como o umbigo, cada um tem o seu”, diz Represas. No entanto, e como o próprio fez questão de recordar, há criticas que apesar de negativas ajudam no futuro.
“É preciso um novo 25 de abril”
Olhando para um Portugal que tanto mudou ao longo do tempo, os músicos dizem que o país precisa de aprender a promover-se. Gil e Represas defendem um novo 25 de abril, mas, desta vez, ao nível das mentalidades.
“O país caminha a dois tempos. Se por um lado caminha no tempo na inovação, continuas a outro passo lento, o da mentalidade, que continua provinciana, traidora. Precisamos de correr a uma só velocidade”, defende represas.
Gil por seu turno considera que é necessário limpar urgentemente "as cunhas e o demérito”, ou seja, com os vícios que inquinam a evolução de um país que ainda está a aprender a lidar com a sua jovem democracia.
Apesar de tudo, Represas é peremptório ao afirmar que o Portugal de hoje é bem melhor que o dos cartazes nos anos 60 que mostravam uma senhora vestida de preto e um burro em frente a uma casa caiada, com o slogan “Visite Portugal. Visite o Algarve”.
Fado, rock, jazz, ou música popular, não há artista que não se veja confrontado com um dos maiores desafios da atualidade: a massificação do acesso ilegal a conteúdos com total desrespeito pelos direitos de autor. A internet é um espaço privilegiado de promoção e informação, mas também apresenta grandes desafios.
Gil acredita que a resposta está na consciencialização daquilo que custa produzir e não na aplicação de “lei do cassetete” que torne difícil o acesso aos conteúdos. Represas concorda e é mais crítico quanto ao papel das editoras que, segundo o músico, tiveram anos para se preparar para estes desafios e que não estiveram à altura.
Antes do final desta visita, os músicos partilharam ainda os seus dotes culinários com a redação e, assim sendo, o SAPO Música não podia deixar de lhe dizer o segredo da canja de galinha de João Gil: “Se puseres um bocadinho de citronela, que é um traço da cozinha tailandesa, e se puseres uma malagueta ou gengibre, de repente, a canja de galinha voa!”
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@Inês Alves e Edson Vital
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