O álbum foi gravado numa sala do Palácio de Pintéus, nos arredores de Loures, propriedade do fadista João Ferreira-Rosa, “um espaço com muita carga fadista, onde se gravaram célebres programas televisivos, e onde cantaram Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro e até o meu pai [Vicente da Câmara]”, disse. “Em dois fins de semana gravámos sem rede, há mais imperfeições, mas há mais verdade”, salientou.

O álbum é constituído por 14 temas, todos com letras inéditas, alguns com músicas tradicionais e outros com composições inéditas.

José da Câmara assina a letra e música de “Salada de Portugal”, com que abre o disco, e ainda a letra de “Paixão, Amor”, que interpreta na melodia do Fado Jaime, de Jaime Santos. O fadista assina também duas músicas, dos temas "Olhos nos Olhos", de Ana Vidal, e "Sonhei, Chorei", de Rui Rocha, e, em parceria com Daniel Gouveia, a letra e música de “Queres namorar?”.

“Não me considero poeta, de vez em quando Deus manda-me umas ‘pinguinhas’ e eu aproveito-as todas”, disse o fadista.

Referindo-se ao tema de abertura, que pretende fazer uma descrição de Portugal, José da Câmara afirmou: “Propus-me fazer um tema popular com refrão, que não se tem explorado muito no fado, nos últimos tempos, e que para variar diz bem de Portugal, das suas províncias, das suas gentes, dos comes e bebes”.

José da Câmara estreou-se como autor de letras e compositor, em 1999. Referindo-se ao disco "Até Sempre Sr. Fado", o fadista afirmou: “É um CD absolutamente tradicional”, e realçou, entre outros, o tema “A Zanga do Fado”, com letra e música de Daniel Gouveia, que José da Câmara interpreta com João Ferreira-Rosa.

“O João Ferreira-Rosa é uma lenda viva, e faz todo o sentido neste tema, ele andava por ali, e de forma muito natural convidei-o a interpretar comigo ‘A Zanga do Fado’, ensaiámos apenas durante 20 minutos e ele gravou de imediato”, contou.

Outro tema que destacou foi “Relembrar”, de Amadeu Dinis da Fonseca, autor, entre outros, de “Ó Portela vem à janela”.

Este tema “Relembrar” tem, “como originalidade, os primeiros dois versos de cada quintilha remeterem para um fado que já se conhece, e é interpretado na música do Fado Pedro Rodrigues, que, através de um arranjo do [guitarrista] Luís Petisca, juntou um pouco do Fado Dois Tons e saiu bem”, afirmou.

Outros poetas escolhidos são José Luís Gordo e Mário Raínho, ambos distinguidos com o Prémio Amália Rodrigues para o Melhor Poeta, autores, respetivamente de “Vejo”, interpretado no Fado dos Sonhos, de Frederico de Brito, e “Palavras Encruzilhadas”, no Fado Santa Luzia, de Armando Machado.

José da Câmara decidiu incluir também neste álbum, editado pela Companhia Nacional de Música, um tema de uma das revistas em que participou. Trata-se da "Marcha do Porto", de Norberto Barroca e Nuno Nazareth Fernandes.

Incluiu o fado, “até porque não faz sentido esta rivalidade entre Lisboa e Porto”. “Há gente ótima no Porto, com grandes fadistas, músicos, poetas, e somos todos portugueses e a gostar muito do fado”, salientou.

José da Câmara considera que “o fado vive um bom momento, uma maré alta”, e recordou como “tudo era diferente há 15 anos, quando o fado não ia à televisão" e as dificuldades que enfrentou para promover o seu trabalho.

Todavia, considera que esta “moda do fado, como outros períodos de alta do fado, vai passar e depois cada um vai à sua vida; as pessoas do fado continuam no fado, mas estes ciclos de notoriedade do fado, como o que vivemos, são bons, pois trazem sempre mais qualidade ao género”.

José da Câmara apresenta "Até Sempre Sr. Fado", no Museu do Fado, na terça-feira, às 18:00, acompanhado por Luís Petisca, na guitarra portuguesa, Armando Figueiredo, na viola de fado, e Filipe Vaz da Silva, na viola-baixo.

Para o Museu, no seu sítio na Internet, “o novo disco de José da Câmara é uma extraordinária homenagem ao fado”.

Este álbum sucede a “Emoções”, saído em 2010, em que José da Câmara interpretou temas do repertório do cantor Roberto Carlos.

@Lusa