SAPO (S.): Já passou por três Rock in Rio. Em 2008 esteve em Lisboa e em Madrid e em 2011 no Rio de Janeiro. Que memórias guarda desses concertos?

Lenny Kravitz (L. K.): Foi entusiasmante. São eventos grandes, muitas pessoas, muitos artistas. É sempre divertido. Antes de ter tocado pela primeira vez num Rock in Rio, já tinha ouvido falar do evento, tinha visto imagens na televisão. Sabia que era um evento muito grande e muito popular.

S.: O alinhamento do concerto no Rock in Rio-Lisboa vai focar-se mais nas músicas do novo álbum ou podemos esperar muitas canções de discos anteriores?

L.K.: Vai ser uma mistura entre músicas do meu último álbum, «Black and White America» e muitos sucessos mais antigos.

S.:«Black and White America» nasceu entre as Bahamas e Paris. O resultado final mostra as influências dos sítios onde fez as canções?

L.K.: O sítio não interessa, o que interessa é o que se passa na minha cabeça. Eu escrevo o que está dentro de mim. Foi ótimo estar nas Bahamas, o sítio onde eu escrevi o álbum, e fiz também algum do trabalho em Paris. Fi-lo porque eram os sítios onde eu queria estar mas estava tudo na minha cabeça.

Eu estive intermitentemente durante dois anos a gravar o álbum nas Bahamas. Nas Bahamas vivo numa cidade muito pequena, sem ostentações, numa caravana na praia. Depois, vim para Paris e fiz uma das canções aqui, assim como grande parte da mistura. Mas a maioria das músicas foi feita nas Bahamas.Eu podia estar na Lua, não interessa onde estou. Quando faço música estou no meu próprio mundo. A melhor parte de ser músico é fazer música. Não importa a forma nem o sítio em que a fazemos.

S.: Uma das âncoras do álbum é o tema do racismo na América. Porque é que quis abordar o problema na sua música?

L.K.: Primeiro que tudo, o racismo é uma coisa errada. Depois, é um tema muito próximo da minha vida, porque sou uma pessoa interracial, nascida de uma família interracial.

Os meus pais apaixonaram-se nos anos 60 e fizeram parte do Movimento de Luta pelos Direitos Civis. Para além disso, o nosso presidente é birracial. Estamos numa altura interessante. Se, por um lado, estamos a avançar em muitos campos na América, por outro lado, estamos a retroceder noutros. Consegue sentir-se a repressão. Sinto-me muito mal com muita coisa que se está a passar nos Estados Unidos.

S.: E quanto à sua carreira no cinema, pensa em expandi-la? Nos últimos anos tem participado em vários filmes, como «Precious» ou, mais recentemente, «Os Jogos da Fome»...

L.K.: Vou fazer mais filmes. Tenho mais três filmes no horizonte neste momento e vou arranjar tempo para os fazer. Nunca vou parar de fazer música e por isso não vou ter muito tempo livre. Estou a pôr toda a minha energia nestes projetos criativos.

S.: Desde que começou nos anos 80 até agora, sente que se transformou num músico muito diferente?

L.K.: Não penso muito no caminho que fiz. Sinto que sou um músico melhor. Há trinta anos havia outra atmosfera. Não é melhor ou pior agora, é diferente. Aprendi muito desde então mas hoje também tenho mais ferramentas com que trabalhar.

@Inês Gens Mendes