A primeira vez que se apresentou fora de Cabo Verde foi em Lisboa, mais precisamente no Coliseu dos Recreios, quando tinha cerca de 15 anos e foi convidada a participar num concerto de três gerações da música cabo-verdiana. Regressa agora a essa mítica sala lisboeta, numa produção em nome próprio.

Mayra Andrade não esconde que se trata de um concerto especial. "É um passo importante, eu sempre fui acarinhada pelo público português e quero apresentar um concerto único e será um concerto único, porque será acústico, com um formato muito reduzido. Estou eu e mais três músicos. É como ocupar um espaço muito grande que é deixado para a voz".

A base deste concerto será o último álbum de Mayra Andrade, "Studio 105". Odisco "tem um registo íntimo de um concerto gravado ao vivo nos estúdios da Radio France". É este registo íntimo que a intérprete, nascida em Cuba, pretende criar no Coliseu. Sobre este novo formato de concerto, afirma: "É um momento que eu estou a viver, é a fase que eu estou a atravessar, é uma necessidade, serão músicas do primeiro e do segundo disco e outras que eu nunca cantei, revisitadas por arranjos e por uma instrumentação nova".

Este concerto terá alguns convidados especiais: Tito Paris, Bernardo Sassetti, Carlos do Carmo, Carlos Martins e Teresa Salgueiro. "Os meus convidados são pessoas que têm de uma forma ou de outra muita importância para mim. São pessoas que eu admiro muito e que em determinadas fases tiveram presentes na minha vida", confessa.

Mayra Andrade é muitas vezes criticada, em Cabo Verde, pelos defensores da música tradicional, porqueas suas cançõestem influências de outros estilos. No entanto, na Europa essafusãoé habitualmente elogiada. Quando questionada sobre essa dualidade, a cantora diz que "esta é a sua opção". "A música só me interessa se for assim", reforça. Contudo, não são essas críticas que fazem com que deixe de ser uma das cantoras mais queridas de Cabo Verde. "De uma forma geral sinto-me muito bem recebida em Cabo Verde, muito acarinhada". Em resposta aos "puristas", Mayra Andrade responde que Cabo Verde sempre foi um povo mestiço: "Cabo Verde existe porque existiu a mestiçagem, portanto música pura em Cabo Verde não existe".

Espera-se que o Coliseu de Lisboa tenha mais uma noite memorável, desta vez com a cantora das ilhas "crioulas", num ambiente único, "num concerto único".

@Edson Vital e Gonçalo Sá