E se, em 2004, o músico/compositor/produtor subiu ao palco acompanhado apenas da sua guitarra para cantar os grandes êxitos da sua carreira, em formato acústico, desta feita o palco da sala lisboeta foi pequeno para acolher a sua banda, composta pelos italianos Mario Percudani (guitarra), Alessandro Mori (bateria), Alessandro Del Vecchio (teclados) e a incrível baixista Anna Portalupi, um portento de atitude e talento.

Depois de mais de duas décadas de carreira, com incursões em diversos estilos, do pop rock à música country (ou não morasse ele em Nashville há vários anos), Mitch Malloy parece ter reencontrado o gosto pelo hard rock melódico que o lançou para a ribalta em 1992, com o álbum de estreia. O novo disco, acabadinho de lançar, faz facilmente a ponte com esse momento e isso notou-se ao longo de todo o espetáculo, com o alinhamento a saltar entre um álbum e outro de forma quase imperceptível. A maior diferença acabou por ser a resposta do público, a cantar clássicos como “Mission of Love” (a abrir a noite), “Stranded in the Middle of Nowhere” ou “Forever” a plenos pulmões e a ficar mais tímido nos novos temas, menos familiares.

Malloy continua a ter uma das melhores vozes do meio e tira partido disso sem pudor. Brinca com ela dos tons mais graves até aos agudos quase irreais e passeia, sem dificuldade, entre a postura rocker e todo o sentimento dos blues, bem visível na reacção do público a “Over the Water” -tema que confessou ser o seu favorito do primeiro álbum. A dimensão do palco não dava para mais, mas o músico dançou, interagiu com o público, arremessou t-shirts, mostrou-se muito cúmplice com os seus novos companheiros (diferença ainda mais sentida por quem o viu com a banda sueca que o acompanhou na gravação do DVD no Firefest de 2008) e entregou-se com tudo o que tinha para dar.

Entre os temas dos dois álbuns, tempo, ainda, para recordar “It’s About Love”, de “Shine”, o álbum de 2003 que passou pelo mercado de forma muito discreta mas que também vale a pena conhecer. De referir, também, dois momentos bastante emotivos no alinhamento - a apresentação de “Carry On”, tema do último álbum, dedicado ao pai, a um amigo próximo e a Steve Lee, o vocalista dos suíços Gotthard (os três falecidos recentemente), e a versão acústica e muito sentida da balada “Our Love Will Never Die”, a arrancar algumas lágrimas discretas, mesmo entre os fãs de barba rija.

A noite passou depressa demais (costuma ser assim quando estamos a divertir-nos)e acabou com a promessa de um regresso a Lisboa já na primavera de 2012, que se afigura com uma agenda cada vez mais interessante.

O público pediu mais e o encore abriu com “Anything at All”, para delírio de quem se perguntava já se não haveria lugar para o maior êxito da carreira de Mitch Malloy – este foi o tema que lhe garantiu airplay contínuo nas emissões da MTV no início dos anos 90 e esteve no Top 20 durante várias semanas. A honra de fecho coube a “All My Friends”, uma homenagem aos fãs, que encerra, também, o novo álbum.

As luzes apagaram-se mas os presentes não arredaram pé e fizeram fila para os autógrafos, as fotos da praxe e dois dedos de conversa, e o músico já agradeceu no facebook o carinho e a recepção do público português na última data da digressão europeia.

Mitch Malloy está de regresso às origens do seu sucesso e, cada vez mais próximo do mercado europeu, parece estar de malas aviadas para se fixar, definitivamente, em Itália. De regresso, também, à longa juba loira que marcou o seu visual na década de 90 e sem demonstrar um ano a mais (há pessoas muito abençoadas pela genética), o músico teve uma das prestações mais aplaudidas do Firefest deste ano, em Inglaterra, e parece ter convencido os fãs com o novo álbum, que conta com vários convidados de luxo – Phil Collen (Def Leppard), Keith Scott (Bryan Adams), Keith Howland (Chicago), Pete Lesperance (Harem Scarem), Jeff Scott Soto (Talisman, Trans-Siberian Orchestra), Leo Leoni e Freddy Scherer (Gotthard), entre outros.

Quando pensamos em Mitch Malloy, é difícil não recordar um ponto marcante da sua carreira – a meia dúzia de dias em que foi o vocalista dos grandes Van Halen. Após a saída de Sammy Hagar, Mitch Malloy foi convidado a voar até Los Angeles e passou algum tempo com a banda. “Panama”, “Why Can't This Be Love” e “Jump” são alguns dos temas incluídos nas demos gravadas durante esses dias. Depois de confirmada a sucessão, uma participação da banda numa entrega de prémios da MTV, numa manobra publicitária com David Lee Roth, baralhou as contas e levou Malloy a voltar atrás, ao perceber que qualquer novo vocalista da banda nunca o seria em nome próprio, mas apenas enquanto mais um substituto de “Diamond” Dave.

Ao ver a forma como domina o palco e o excelente momento de forma da sua voz, somos obrigados a perguntar que rumo teriam tomado os Van Halen se a colaboração tivesse ido em frente. Com dificuldades em recuperar de uma encarnação falhada com Gary Cherone (ex-Extreme) e de muitos anos de polémicas e adiamentos da tão aguardada reunião com o vocalista original, talvez a história dos Van Halen tivesse sido bem diferente. Os fãs de Mitch Malloy, esses ficaram, definitivamente, a ganhar. Que venha a Primavera.

Alinhamento:

- Mission of Love;
- Falling to Pieces;
- Stranded in the Middle of Nowhere;
- Over the Water;
- It’s About Love;
- Carry On;
- I’ll Love You Still;
- Love Song;
- Our Love Will Never Die;
- Forever;

Encore:

- Anything at All;
- All My Friends.

Liliana Nascimento