A noite convidava a uma estadia prolongada em casa. Frio, seis graus cobriam a capital, e a chuva só veio agravar uma vontade de ficar junto ao aquecedor. Uns quantos resistentes equiparam-se a rigor e foram até Telheiras para ver e ouvir David Santos, sob o apelido de Noiserv. O artista, a meio do espectáculo, fez questão de agradecer o “favor”, mas foi brindado por um entusiasta “nós é que agradecemos”. E não poderia ser mais verdade.

Com um disco e um EP editados, David Santos despontou para o mercado, por um projecto que tem tanto de simples como de original e diferente. Acompanhado pela prima, Diana Mascarenhas, a “culpada” pelo design do músico, deu um grande espectáculo num ambiente intimista, acolhedor e que, de certa forma, nos transporta à infância, à inocência de uns rabiscos num qualquer papel e à descoberta de sons num qualquer xilofone. Ou mesmo nas mesas e armários de uma qualquer sala.

Noiserv, o projecto deste músico de 28 anos, todo ele alternativo, pessoa e o dito projecto, mostra que tudo é reutilizável.Noiserv abriu a noite com "Mr Carousel", quando Diana, que o acompanha quase sempre, começou os seus desenhos em Power Point, que foram pintando a actuação do músico (com uma sonoridade muito própria e neste momento única). Apesar de confessar influências (como Radiohead, por exemplo), David soube inovar com o que já existia. Megafones, acordeão pequeno e colorido, viola e orgão e até uma máquina fotográfica antiga, já para não falar no seu xilofone, servem para produzir música. E boa, muito boa.

Alternando entre o novo trabalho e o anterior, tocou "Bullet Parade", "The sad story of a little town", "Bontempi" (inspirado na marca do teclado – “Esta passou na Sociedade Portuguesa de Autores. E Bontempi deve ser bom tempo em italiano. O que não está lá fora agora”, disse, antes de iniciar a actuação e originando risos), "Tokyo Girl", "Melody Pop" (inspirada nos “chupas com flauta na ponta” e saída de ”uma noite em Portalegre”, quando ele e os amigos tentavam fazer música) e "Palco do Tempo", a única cantada em português e composta para o documentário "José e Pilar". Mas, mesmo despedindo-se, foi obrigado a voltar e fechou com "Where is my Mind", uma cover dos Pixies.

Com um repertório ainda curto, Noiserv deixa a vontade de mais. Uma hora é pouco para desfrutar deste músico e das suas composições, da sua forma de dar vida aos sons, aos instrumentos. David Santos é simples, tímido ainda perante o público, uma timidez de quase menino. Tem prazer no que faz, isso é visível, e tem o palco do tempo à sua frente. Por cá, parece ser único. E veremos se 2011 o leva a voos mais altos. ”Feliz Natal”, assim se despediu.

Texto e fotos @Inês Henriques

Videoclip de "Mr. Carousel":