Durantetrês dias, o Porto abriu as portas a um mundo feito de música e de diferentes nacionalidades. Pelo segundo ano consecutivo, o Optimus Primavera Sound mostrou ao resto do país que, aqui, a música é feita para ser ouvida à séria.

Festival que abre oficialmente a época dos festivais de verão, o Optimus Primavera Sound é um evento sem par no nosso país. Se a música consegue criar um ambiente bem diverso – com alguns dos nomes mais importantes da cena indie e do universo musical dos nossos dias e de outros tempos –, a relação que se cria entre quem aqui se desloca é uma das mais-valias deste evento.

“Um festival muito ordeiro”, “um ambiente muito adulto”, ou “uma localização fantástica” são apenas algumas das frases que se ouvem, em diferentes línguas, pelo Parque da Cidade. Localizado no limite norte da cidade, o maior parque urbano do país, com cerca de 80 hectares, é perfeito para acolher um evento que é feito para quem é um verdadeiro melómano e para todos os outros que, não o sendo, querem ouvir boa música.

Se, no ano passado, a afluência maior veio de fora do país, com uma proporção de 70% de estrangeiros para 30% de público nacional, este ano, ficámos acima dos 50%. Ainda assim, é muito fácil que, durante parte do dia, não seouça outra língua que não seja espanhol, inglês, francês e italiano (as mais ouvidas), a não ser que se depare com algum amigo. O que, no Porto, num ambiente citadino mais pequeno, não é difícil.

Mary e Gil, franceses de 23 anos, aproveitaram o facto de estarem uns dias no Porto para irem até ao Primavera. “Vão tocar algumas das nossas bandas preferidas, como os Grizzly Bear, Four Tet, Fuck Buttons... Sobretudo, Grizzly Bear!”, riem-se. Estão também muito entusiasmados porque encontraram um dos membros dos Grizzly num bar, na noite anterior. O facto de ser um festival de música em Portugal é excelente. “Para nós, é mais exótico do que ser em França”, explica Mary. Referem a localização como um dos pontos fortes deste espetáculo: “É muito tranquilo.” Gil, que já trabalhouquatro anos seguidos como voluntário do festival Eurockéennes de Belfort, em França, diz que o Optimus Primavera Sound está muito bem organizado.

E a quantidade de pessoas que integram a organização de um evento destes passa até despercebida, quando estamos a falar de 110 seguranças, 424 elementos nas comitivas das bandas, sendo os Blur a banda com mais pessoas -35 no total. E é também graças às 1470 pessoas que integraram o staff que é possível não estar constantemente a tropeçar em copos de plástico, ter permanentemente disponíveis programas do festival (ainda que com gralhas, My Blood Valentine?!), ganhar sacos/toalhas de piquenique e coroas de flores, entre outras surpresas.

Susana, 35 anos, de Braga, que veio ao Primavera “fundamentalmente para ouvir boa música”, salienta a organização e o ambiente que se vive no espaço. Os amigos, Ana, de 26 anos, e Jorge, de 39 anos, também de Braga, referem também a organização e a “vantagem de não ser tão poeirento como os outros”. Destacam ainda o facto de ser ainda um dos três festivais urbanos do nosso país, o que, em termos de logística, o torna de muito fácil acesso.

James, de 30 anos, vem de propósito da Irlanda para assistir ao ‘nosso’ Primavera. Um grupo de amigos falou-lhe do Primavera Sound Barcelona, hádois anos, e do Optimus Primavera Sound do ano passado, e ele quis ver como era. Adorou o ambiente e os concertos de Nick Cave e Blur. Realça o facto de haver muita oferta de comida e muitas barracas de bebida como um dos pontos mais forte. “Na Irlanda, só há uma barraca de comida e ficamos duas horas à espera para comer”, ri-se do exagero. Pontos mais fracos? “O facto de os Savages e os Liars tocarem praticamente aos mesmo tempo". Nada é perfeito.

Paddy, 30 anos, também da Irlanda, está no Optimus Primavera Sound pela segunda vez. Adora o sol e o facto de aqui ser tudo muito barato.. Gosta do espaço, nem muito grande nem muito pequeno, “perfeito para um festival deste tipo”, e, mais uma vez, a organização está de parabéns: “Não há grandes filas para comer ou beber". Marty, 33 anos, salienta ainda a simpatia das pessoas. Nunca tinha visto Blur ao vivo e foi essa a principal razão que o fez vir da Irlanda para o Porto. “O concerto foi fantástico!”, remata.

Espanhóis e ingleses são as nacionalidades que se destacam entre os estrangeiros que se deslocaram ao Optimus Primavera Sound (num total dedez mil). No recinto, o ambiente é de perfeita harmonia. Não há confusões, atropelos e empurrões e todos parecem ter um único objetivo: ouvir, e ver, música. É isso que refere Verónica, 35 anos, que vem de Lisboa, pelo segundo ano. “O público é mais conhecedor, é um festival diferente. Quem vem, conhece as bandas e a música”, explica. Com ela vieram Beatriz, 17 anos, que refere ainda a localização como um dos pontos altos do evento; Francisco, de 47, e Fernando, de 46, também repetentes. Francisco refere que o cartaz é o principal motivo para ter voltado.

Para o ano, e depois da consolidação do evento com um dos festivais obrigatórios de verão, com 75 mil pessoas a entrar no Parque da Cidade em três dias, há, pelo menos, a confirmação da realização do terceiro Optimus Primavera Sound. Um nome foi já avançado – Neutral Milk Hotel – para o cartaz de 2014. No fim de semana de 5, 6 e 7de junho todos os caminhos vão dar ao Parque da Cidade. E todos os que ali forem continuarão a seguir uma única senhora: a boa música.

Optimus Primavera Sound em números:

-18 pontos de comida preparados para servir 80 mil refeições
-20 bares
-Mais de mil quartos em hotéis para as bandas
-52 bandas
-435 jornalistas, dos quais 160 estrangeiros
-21 dias de montagem/ 4 de desmontagem
-15 metros cúbicos de ferro de todas as estruturas
-9 km de cablagem
-4 km de vedação

Helena Ales Pereira