Palco Principal - Ao terceiro álbum, os peixe:avião soam mais adultos e revelam um som que funciona como uma identidade própria. O que mudou desde 2007?
Peixe:avião - Obrigado! Muita coisa mudou desde 2007: aquilo que seria normal mudar, como crescermos enquanto indivíduos e termos contacto com outros projetos, conhecermo-nos melhor no contexto da banda, termos a experiência acumulada de dois discos editados, etc., etc. Mas a principal alteração, uma que foi muito significativa em relação ao “Madrugada”, foi o nosso método de composição, que deixou de ser tão individualista e cerebral e passou a ser mais comunitário, com mais espaço para o instinto e menos para o pensar demasiado nas composições.
PP - A produção deste álbum parece mais sólida e segura e, com isso, ganham as músicas enquanto resultado final. A criação das vossas composições tem mais “trabalho de casa” ou é no estúdio que as coisas acontecem?
PA - Diria que 80% do disco surgiu em Braga. Quando fomos para Lisboa gravar com o Nélson Carvalho, já tínhamos uma ideia bastante sólida daquilo que queríamos fazer, e tanto nós como o próprio Nelson estávamos todos perfeitamente alinhados. Ainda assim, houve uma música que foi totalmente composta e gravada nos três dias em que estivemos nos estúdios da Valentim de Carvalho, e as sugestões e nuances preciosas que o Nélson implementou potenciaram a obra no seu todo.
PP - Neste disco ficamos a conhecer músicas com diferentes «almas». Foi propositada esta heterogeneidade ou é fruto de um acaso sonoro?
PA - Este disco foi muito balizado, tanto ao nível estético como na sua composição. Não definimos aquilo que queríamos fazer, mas antes aquilo de que queríamos fugir. Tínhamos algumas premissas bem definidas, como a utilização de esquemas de acordes simples e curtos, a utilização de uma paleta de sons muito contida e a quase ausência de over-dubs.
Dentro deste universo tentámos navegar pelo maior número de sítios possível, indo buscar as referências que fizessem sentido à composição. De facto, acabou por ser um disco bastante heterogéneo, e ainda bem!
PP - Sabemos que as letras são, por princípio, da responsabilidade do Ronaldo. Como nasce a música nos peixe:avião? São um quinteto democrático?
PA - Somos um quinteto bastante democrático na composição dos temas, e a vantagem de sermos cinco elementos é que nunca há empates. Já as letras são criadas num regime de ditadura militar encabeçado pelo Ronaldo. Opinamos as letras, claro, mas confiamo-las a ele com toda a evidência.
PP - Ao idealizarem este novo trabalho tiveram alguma vontade de quebrar com o passado recente? Sentem que este é um disco de continuidade ou rutura?
PA - Quando começámos a pensar este disco, há cerca de dois anos, foi precisamente naquilo que queríamos mudar em relação ao “Madrugada” que nos focámos mais. Não que o “Madrugada” tivesse sido uma experiência traumática, longe disso. Simplesmente não queremos fazer dois discos iguais. A vontade de evoluir e redescobrir é constante.
PP - Nascidos e criados em Braga, os peixe:avião sentem a responsabilidade de carregar a herança de bandas como, por exemplo, os “Mão Morta”?
PA - Não pensamos muito nisso. Claro que estamos conscientes dessa herança, nem que seja por nos lembrarem dela recorrentemente. Mas estamos alguns patamares a baixo de bandas como os Mão Morta, com direito a um capítulo inteiro na história da música portuguesa.
PP - O que se respira em particular na vossa cidade que tão boas bandas revela?
PA - É mais o que não se respira que faz com que haja vontade de criar. Mas, apesar de haver poucas plataformas para a divulgação de música em Braga, houve a criação de uma plataforma importantíssima para a criação, que foram as salas de ensaio do estádio “Primeiro de Maio”. Fizeram com que muitos músicos se conhecessem e muitas bandas surgissem desse convívio. Nós somos um desses casos, de uma banda composta por elementos de outras bandas do estádio.
PP - Em termos de promoção do álbum, o que podemos esperar no que toca a atuações ao vivo?
PA - Explorámos muito a componente visual do concerto. Tentámos traduzir a estética do disco também através do cenário, da disposição e das luzes em palco. Musicalmente, como o disco é muito mais simples do que os anteriores, é mais imediatamente transponível para palco, o que faz com que tenhamos mais margem para explorarmos a interpretação, as dinâmicas, a expressão, etc. Isto faz com que o disco ganhe outra vida em concerto.
Estamos agora a mostrá-lo o mais possível e vamos andar pela estrada nos próximos tempos: Trofa (4 de outubro), Lisboa (5 de outubro), Espinho (19 de outubro), Vale de Cambra (1 de novembro) e Barcelos (2 de novembro).
Texto: Carlos Eugénio Augusto
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