“Reuni fados que ao longo da minha carreira fui cantando, mantive o Fado Rosita [de Joaquim de Campos] que eu canto sempre, em espetáculos ou numa casa de fados, é um fado que me acompanha sempre, mas também quis mostrar outros fados de que gosto e canto, muitos deles não foram feitos para mim, mas que os adotei como se fossem meus”, disse a fadista à agência Lusa.
O álbum, editado pelo Museu do Fado, conta 14 temas, abrindo com “Não Chames Pela Saudade” (Joaquim Pimentel/Fado Tango, de Joaquim Campos), inclui uma guitarrada, a mesma que fez parte do seu anterior disco, editado em 1990, mas interpretada por outros músicos, e um poema da sua filha, a fadista Carminho, “Desde que Tu Partiste”, que gravou no Fado Alexandrino, de Joaquim Campos.
A decisão de incluir uma guitarrada resgata o que foi uma tradição na discografia fadista, explicou Teresa Siqueira.
A guitarrada é interpretada pelos músicos que a acompanham: Pedro de Castro, guitarra portuguesa, André Ramos, à viola, e Francisco Gaspar, baixo acústico.
A fadista contou com outro acompanhador, à guitarra portuguesa, Bernardo Couto, que também participa na “Guitarrada II”, e nos temas “Praia Perdida” (António Calem/Fado Isabel, de José Fontes Rocha), e “A Festa é de Lisboa” (Nuno Moniz Pereira/Mário Moniz Pereira).
Em declarações à agência Lusa, a fadista realçou “a importância da cumplicidade com os músicos”. “Eu conheço-os há muitos anos, podiam ser meus filhos, eles sabem os meus defeitos e eu os deles, mas este conhecimento, esta cumplicidade, é importante quando se canta, cria um envolvimento mais forte”, enfatizou.
“São grandes músicos e entendemo-nos muito bem”, acrescentou.
Gravar um novo disco era uma ideia que tinha há muito tempo. Em 2017, em declarações à Lusa, a fadista já dava conta da sua vontade em voltar a estúdio, “a seu tempo e com calma”. “É bom ter vários registos, a nossa voz vai mudando ao longo dos anos, e eu gostava de ter um registo da minha voz agora”, argumentou.
“A minha carreira foi atípica, mas estive sempre envolvida no meio fadista, nunca deixei de frequentar as casas de fado, e sempre cantei, tive até uma casa de fados”, O Embuçado, em Lisboa, que geriu entre 1993 e 2005, um período que qualificou como “maravilhoso” que lhe permitiu “conhecer melhor e aprender coisas”, com vários músicos e fadistas, citando Celeste Rodrigues (1923-2019), Beatriz da Conceição (1939-2015), José Fontes Rocha (1926-2011) e Francisco Andión, artisticamente conhecido como Paquito (1935-2004).
Teresa Siqueira gravou, no Fado Três Bairros, de Casimiro Ramos, “Alfama Bairro Velhinho”, de Hermano Sobral, no Fado Georgino, “Poeira que vai no Tempo”, de Manuel Andrade, no Fado Menor do Porto, de José Joaquim Cavaleiro Jr., “Não Acordes Minha Dor”, de António Campos, no Fado Pedro Rodrigues, de P. Rodrigues, “Porque é que Adeus me Disseste”, poema de Pedro Homem de Mello, e no Fado Vianinha, de Francisco Viana, “Vesti a Minha Saudade”, de António Campos, único poeta que bisa no alinhamento.
Sobre a letra de autoria de Carminho, Teresa Siqueira andava à procura de uma letra para o Fado Alexandrino, de Joaquim Campos, e queria uma letra inédita, tendo recorrido à filha “porque escreve sempre muito e vai metendo numa gaveta”.
“Escolhi este poema porque me diz muito”, referiu a fadista, que defendeu a necessidade de cantar poemas que, sentimentalmente, lhe tocam.
Teresa Siqueira referiu-se à carreira da filha como “extraordinária”. “Ela é muito boa em diferentes vertentes do fado, ela escreve, compõe e canta maravilhosamente, tem uma presença incrível e merece os louros que está a colher, e faz-me um bocado confusão pensar que aquela artista é a minha filha”.
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