Fiquem a conhecer o homem por detrás d' "A Chave" - "a chave com que a gente espera abrir o amanhã".
Palco Principal - Após ter passado por vários projetos, como os Boémia, Rogério Charraz Trio ou Sotaques, como é, finalmente,editar um disco a solo, enquanto cantautor?
Rogério Charraz - É bom. Foram muitos anos a ter projetos partilhados com outras pessoas. Agora, finalmente, consigo ter um projeto que é a minha cara, posso fazer aquilo que quero, não tenho, numa fase inicial,que ouvir outras pessoas, que partilhar - embora, a meio do projeto, entre muita gente e, a dada altura, seja um projeto partilhado também. Mas é bom, sinto-me realizado, no sentido em que estou a fazer exatamente a música que gosto, a música que reflete a minha personalidade.
PP -Em que difere "A Chave" dos seustrabalhos anteriores?
RC -Podemos encontrar as principais diferenças noinício, na criação, na composição, na primeira fase do projeto.Os outros projetos, nomeadamente os Boémia, eram projetos coletivos, que viviam e dependiam de várias pessoas, onde havia mistura dos custos e da personalidade de diversas pessoas. Neste projeto, toda a primeira fase é feita por mim, a composição é feita por mim, a escolha dos temas é feita por mim, a escrita das letras e a escolha das letras que não são escritas por mim... também sou eu que faço! Só a partir de certa altura começam a entrar os músicos, o produtor, etc., e o trabalho a solo transforma-se no trabalho de uma equipa fantástica. Mas, lá está, a primeira fase é algo mais solitário, mais meu, mais pessoal.
PP - Que “Chave” é esta de que nos fala?
RC - Tal como diz a canção, é a chave com que a gente espera abriro amanhã. É a nossa entrada na música, o nosso primeiro trabalho, a nossa primeira mostra do nosso trabalho...
PP - A chave do sucesso, talvez?
RC - Na verdade, tenho esperança de que este disco possa abrir um caminho e um espaço dentro da música portuguesa.
PP - Espreitando pela fechadura do seu site oficial, vemo-lo a si. Se espreitarmos pelas suas músicas, acontece o mesmo? Este é um álbum introspetivo?
RC - De certa maneira, é. As letras das canções têm, inclusive, muito a ver comigo. Mesmo as canções que não foram escritas por mim foram escritas por alguns amigos a pensar em mim. Em algumas delas, adotaram perfeitamente o meu papel. Portanto, sim, é um disco que reflete a minha personalidade enquanto pessoa e enquanto músico.
PP -Em“A Chave” contou com a colaboração de diversos artistas de renome, como José Mário Branco, Rui Veloso ou Ana Lains. O que cada um deles trouxe ao disco?
RC - Coisas diferentes, naturalmente. Tratam-se de três pessoas diferentes, com caminhos também diferentes na música portuguesa. Tanto o José Mário Branco como o Rui Veloso são grandes figuras da música portuguesa e portanto, logo à partida, trouxeram uma chancela de qualidade. A sua participação no disco chama, naturalmente, a atenção das pessoas para o mesmo. Tendo eles a carreira que têm, as pessoas, ao verem o seu nome envolvido, é natural que sintam mais curiosidade em ouvir o álbum. Estes dois nomes trouxeram essa mais valia. A Ana Lains não tem, obviamente, uma carreira tão vasta como o José Mário ou o Rui Veloso, mas trouxe, acima de tudo, o seu talento, força interior e amizade. Somos amigos há já algum tempo e era uma participação que fazia todo o sentido. Também foi, seguramente, uma mais valia.
PP - Quatro temas do seu novo trabalho integram a banda sonora de “Pai à Força”, uma das séries de maior sucesso da RTP. Sente que a sériefoi um impulso para a sua carreira enquanto cantautor?
RC - Sim, naturalmente. Estamos a falar de um programa de televisão que passa todas as semanas, que tem muita audiência e muita aceitação no seio de muitas famílias. Portanto, para quem está a lançar um trabalho novo, para quem está a chegar ao mercado em nome próprio - um nome que julgo não ser conhecido pelo grande público -, poder, todas as semanas, ouvir quatro dos temas repetidamente, é uma belíssima oportunidade. A série é, sem dúvida, um grande veículo de promoção, que faz com que as pessoas vão conhecendo o trabalho, se vão identificando com ele, ainda mesmo antes dele chegar às lojas. Estamos muito contentes.
PP - Não acaba, com isso, por atingir um públicodemasiado específico?
RC - Não creio. A nossa comunicação e a nossa promoção não se fica por aí. As músicas também passam na rádio, temos a imprensa escrita, temos o Palco Principal, por exemplo, e também vamos ter mais músicas a passar na televisão. Ou seja, o disco vai chegar a outros públicos de outra maneira. Ainda assim, "Pai à Força" é uma série com muita audiência, um dos programas mais vistos ao domingo, que é um dia em que, por norma, as pessoas vêem muita televisão, em que estão em casa em família... Portanto, não atinge um público redutor. Pelo contrário, é uma porta fantástica, uma vez que hoje em dia não há muitos programas de música na televisão, que é, como sabemos, um veículo privilegiado.
PP - Enquanto artista, qual foi a experiência mais desafiante por que passou?
RC - É sempre a próxima. A carreira de músico é algo que nunca é estanque e nós acabamos por nunca ter nada conquistado, pois, cada vez que subimos um degrau, surgem outros para subir, nomeadamente nos dias de hoje, em que acontece tanta coisa, em que a informação viaja a uma velocidade tão grande. Mas naturalmente que fazer este disco foi um grande desafio. Lançarmo-nos para o mercado nesta fase, com as dificuldades que existem, é um grande desafio, mas outros já se colocam e já estamos a pensar mais à frente.
PP - Privilegia a música portuguesa, enquanto ouvinte e enquanto artista com influências alheias?
RC - As minhas influências musicais são muito audíveis no disco, eu não as escondo. E sim, a música que eu ouço em casa, enquanto ouvinte, é, na sua maioria, portuguesa, lusófona. Gosto muito dos três convidados, do Rui Veloso, do José Mário Branco, da Ana Lains. Também gosto muito da música do Fausto, da música do Sérgio Godinho, da música do Lenine, um compositor brasileiro fantástico! Gosto muito, também, do Tito Paris e do Zeca Afonso, naturalmente. Gosto também de coisas anglo-saxónicas, como John Mayer, por exemplo. Enfim, ouço muita coisa, gosto de muita coisa. Mas aquilo que me influencia é, essencialmente, música portuguesa e lusófona.
PP - Quando vamos poder ver "A Chave" em palco?
RC - Algures na segunda quinzena do mês de março, tanto em Lisboa como no Porto. Já fizemos um concerto em Cascais em dezembro e já temos alguns contactos para levar este disco a vários pontos do país. É este o próximo desafio e estamos ansiosos. Depois de gravar o disco, levá-lo para a estrada é fantástico. Poder tocar estas canções e, ainda por cima, ter já algum reconhecimento do público, poder ter o público a cantar connosco...
Sara Bandeira Costa
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