Algo de muito pouco habitual aconteceu esta sexta-feira à noite no Teatro Sá da Bandeira, na cidade do Porto. A estreia do cantor norte-americano Ryan Adams nesta cidade ficou marcada por um elevado nível de improvisação, digno do mais puro génio que se pode encontrar. Sorte a dele, a noite anterior tinha-lhe ensinado algumas lições, bem como algumas alternativas para quando coisas menos boas acontecessem em palco.

Logo à entrada, percebeu-se que este não ia ser um concerto qualquer:proibições às máquinas fotográficas e a qualquer tipo de gravação faziam-se ver e ouvir, como se os instrumentos audiovisuais de uma arma se tratassem. Ao que parece, o cantor é bastante rigoroso quando à captação de imagens, tendo já abandonado o palco em algumas situações em que os seus fãs não respeitaram as suas diretivas.

Por volta das 22h00, o cantor sobe ao palco, para delírio dos muitos fãs, entre os quais bastantes estrangeiros,que ali se encontravam. No palco nada era visível, para além de umpiano e duas cadeiras: uma para o cantor e outra para os seus acessórios.

Ao longo do concerto, Ryan Adams aparentou ser um pouco desorganizado. Transportavaos seus instrumentos e adereçossem o mínimo de cuidado, não se preocupava onde e como os dispunha, até as letrasdas músicas e respectivas pautaseram um alvo fácil da sua pouca organização.

Caracterizado por tocar baladas emblemáticas e sentimentais, o cantor puxou esta vertente para fazer passar algumas mensagens. O tema Dirty Rain entoou pela sala como se não houvesse amanhã, como se algo tocasse e paralizasse as pessoas que o estavam a ouvir.

Pareceu haveruma ligação entre a banda e o público que raramente se observa em interpretações ao vivo. Houve, inclusive, momentos em que o cantor disse: “Parece que já somos os melhores amigos”. E o público rejubilava...

Por entre imensos improvisos e brincadeiras, as coisas pareciam não estar a correr muito bem para o cantor. Situações caricatas aconteceram durante a noite, com algum azar à mistura, é verdade, mas o cantor pareceu não se importar muito. “Muito obrigado e muito obrigado” foram as palavras de ordem ditas por aquele talento.

Temas como Sylvia Path ou Carolina Rain fizeram as delícias do público, que se manifestou prontamente, a cada oportunidade. “I love you Ryan” eram as palavras mais pronunciadas do lado da assistência.

A noite avançou rapidamente com mais do mesmo, temasao piano, temas com aguitarra, até que ocantor se despediu do público nortenho e desapareceu rapidamente da vista de todos. Palmas e mais palmas foram precisas para este regressar. Algumas pessoas chegaram mesmo a abandonar o recinto.

Blue Hotel acabou por marcar, definitivamente, a despedida do cantor, que na sua memória terá levado as dificuldades sentidas, mas muito bem ultrapassadas, nos palcos nacionais.

Numa próxima visita, espera-se que o cantor reduza a sua intransigência para com os fãs, que tão carinhosamente o acolhem.

José Aguiar